segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Z de ZÊ - Túlio Monteiro*

Aquele pequenino anel que tu me deste,

– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
(Manuel Bandeira no poema “O anel de vidro”)

Ao cabo e ao final, chegamos ao Z. O que fazer quando somos apresentados à última letra de nosso alfabeto, tonando-se ela, portanto, o mote para nossa derradeira crônica no que diz respeito ao abecedário Evoé!?

Escrever, é claro. E com alegria, certo de que a ideia do nosso ilustre editor será perpetuada em livros eletrônicos e/ou de papel mesmo. Lanço, então, meu primeiro desafio dessa que vos prometo ser de boa lavra. Maizena começa com Z ou S? Calma! Não precisa esquentar a cabeça agora nem correr para o dicionário mais próximo. Disso trataremos mais tarde. Porque a deixa dessa crônica, sua mola percussora, será o Z de Zorro! Isso mesmo! Aquela que trata do Robin Wood de capa e espada eternizado nas telinhas pelo saudoso Guy Williams. Isso nos anos sessenta e setenta do século passado.

Tecerei comentários a respeito de nosso herói logo que for possível, mas antes deixem-me esclarecer o significado de Zorro perante o dicionário de língua portuguesa: tal palavra é um substantivo masculino que indica – de acordo com o regionalismo do sul do País – a característica de uma pessoa manhosa, velhaca e astuta por assim dizer. Já em Portugal seu significado é ainda mais interessante, referindo-se a crianças enjeitas e abandonadas ou ainda filhos bastardos, nascidos fora do casamento.

Paro agora, de rompante, quando me vem à mente a grande figura de um quase primo meu, um dos sujeitos mais sensacionais que já conheci, mas que tem a desconcertante mania de ser velhaco no que se refere a abocanhar os livros alheios. Sério! O boa pinta não se faz de rogado quando o assunto é usurpar até as iluminuras de um romance qualquer. De mim, para servir de exemplo, nem bem sei quantos exemplares me levou o astuto. Mas não fiquem irritados, não. Uma vez que é bastante comum esse tipo de comportamento entre escritores. Eu mesmo sou danado para cometer esses pequenos delitos. Nesse aspecto sou réu confesso. Mas o caso de meu quase consanguíneo é digno de hospício e prisão, uma vez que o cabra é bom no que faz. Que o digam, cá para nós, os bibliotecários das bibliotecas Dolor Barreira e Menezes Pimentel. O homem é exímio no que faz, meus queridos. É de deixar o mais qualificado larápio desconcertados com suas artimanhas. Esconde livros entre seus próprios livros, pondo-os também nas cuecas visando com tal feito burlar os mais sofisticados sistemas de alarme antifurto. Pergunto eu e respondem-me vocês: Esse é ou não é um legítimo Zorro no que se refere às artimanhas e maneirismos do nosso substantivo comum. Aos menos avisados fica a dica para tomarem cuidado redobrado quando convidarem esse “vampiro” de livros a visitar suas bibliotecas. Uma raposa velha eu diria. Risos.

Vamos um pouco às nossas reminiscências infantis no que tendem as lembranças de dias que se foram e não voltarão mais nunca, porque o tempo não para. Zorro foi e é uma série de produção da Walt Disney (olhem o W e o Y aqui nos visitando). Baseado em um herói mascado, ela estreou no canal ABC em 10 de outubro de 1957 (feliz aniversário, musa que nasceu nesse mesmo dia e mês), tendo seu final ocorrido em 2 de junho de 1959. Como ainda não existiam transmissões ao vivo, os 78 episódios foram ao ar no Brasil entre janeiro de 1973 e março de 1974.

Daqueles tempos recordo de meu já saudoso pai a construir com as próprias mãos minhas espadas enferrujadas para que eu pudesse brincar de esgrima e duelos mil com meus amigos de pueris. Todos queríamos ser o Zorro, mas só um poderia reinar na pele que era incorporada pelo já ido Guy Williams (Ípsilon e dabliozinho insistentes, não?!). Era um tempo bom de solidão e solitude a representar o isolamento e a reclusão deste que viria a se tonar poeta não por sofrimento, mas, sim, por opção. Época de poucas ou nenhumas preocupações com a labuta do dia-a-dia. Momentos que se foram e não voltaram jamais. Prelibações maiores de uma estrela da vida inteira, posto que sejam infinitas as palavras de Manuel Bandeira quando afirmou: “Sou poeta menor, perdoai! Não faço versos de guerra. Não faço porque os não sei. Mas num torpedo-suicida darei de bom grado a vida na qual não lutei”. (Excertos do poema Testamento, de 1956). Um dos primeiros versos do Modernismo brasileiro, movimento encabeçado por Bandeira e os indeléveis Oswald e Mário de Andrade. O do Sul já que nós cearenses também tivemos nossos Mário de Andrade. Sim! Na plena efervescência do Modernismo brasileiro por aqui no Ceará também tivemos o nosso Mário de Andrade. Que fique, pois, registrada a informação.

E crendo ter sido mais salutar e saboroso desta vez, espero ter lhes proporcionado novamente algo digno de suas apreciações literárias. Despeço-me por aqui na certeza de que vou sentir saudades do abecedário de Kelsen Bravos, que tanto incitou a mim e ao Chico Araújo a terminarmos essa missão praticamente impossível no dizer de Carlos Emílio Correia Lima. Um imenso beijo! Um grande abraço! E fiquem com Deus. Ah! Ia me esquecendo. Risos. Maisena se grafa assim, com S. Porém, há uma exceção da regra que admite novos grafemas quando o tocante é a escrita de palavras homônimas. Aquelas que têm a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Logo, maizena pode ser escrita com Z. Agora é tchau mesmo!

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*Túlio Monteiro - Escritor, poeta, crítico literário, ensaísta, articulista do Evoé!

5 comentários:

  1. Mais letras tivesse nosso alfabeto para ter oportunidade de degustar mais crônicas/cômicas que sua escrita leve presenteia-nos. Já que acabaram as letras, sugiro análise sobre verbos, interjeições e outros etceteras, para satisfazer a nós outros fãns de sua escrita.

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  2. De coração obrigado, nobre artísta Jane Azeredo. Valeu pela sabença e novas sugestões. Com apreço e um abraço fraterno do Túlio Monteiro.

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  3. E zás.... chega ao fim as cronicas do nosso ilustre escritor, na coletânea intitulada, ABECEDÁRIO. Como não tecer um breve comentário (apodado de pitaco vejam só). Muitas coincidências nas escritas desse poeta (não tão solitário assim) pois vez ou outra, não é que ele viaja e se transporta para a infância... e como somos quase contemporâneos, muita me delicia pelo prazer de me ver menino fazendo várias traquinagens... pena que não tenham aparecidos "Sargentos Garcias" para que nós, verdadeiros "zorros", anti heróis ou não, pudéssemos aniquilá-los no decorrer dos tempos. Saudade, não vai causar, pois conheço o ptencial desses primos Kelsen e Túlio e sei que logo logo, vão articular outras coleções de crônicas para nós leitores apreciarmos. Um ode ao ABECEDÁRIO...

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  4. Que tu fales pela boca de um anjo, nobre primo. Que surjam novos projetos arrojados como esse foi. Forte abraço. (TÚLIO MONTEIRO).

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  5. Mais um muito bom texto de sua lavra, caro Tulio Monteiro. E, de fato, entraremos de "férias" após a conclusão do Abecedário; contudo, conforme sabemos, já já um novo projeto estará em curso. Então, até breve.

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