segunda-feira, 12 de março de 2018

ETERNAMENTE? - Túlio Monteiro*

Há certas particularidades do nosso léxico que me deixam realmente com a “pulga atrás da orelha”. São palavras tão usadas em nosso cotidiano que mais parecem sapatos velhos que nem marcas deixam mais pelos caminhos que trilham. Mas ainda assim, são norteadoras do nosso dia a dia em circunstâncias mil. Daí, minha paixão pela Última Flor do Lácio, nossa eterna língua portuguesa.

A palavra que hoje tratará da letra “E” do nosso abecedário nada mais é que um mero substantivo feminino que refere-se à duração de algo que não tem começo nem fim e que prescinde de qualquer determinação cronológica. Uma espécie de círculo que nunca se fecha. Estranho, não, caros ledores? O quanto pode caber no simples período que acabei de construir?! ETERNAMENTE palavra carregada de significados, qual saco de matalotagem de onde tiramos quase tudo que direciona nossas vidas vãs e vez por outra sem sentido algum.

Sim! Todos a queremos! Todos desejamos ansiosamente ser eternos e essa é uma busca diária que vai desde o mais simples trabalhador braçal ao mais conceituado PHD que possa estar vagando a essa hora Mundo afora tentando driblá-la qual um craque de futebol. Hã?! Driblar quem mesmo? Pergunta-se você e respondo eu: aquela que chega lenta, silenciosa e transparente; a que nunca nos deixa de povoar o imaginário; aquela que nunca nos abandonará e um dia virá com suas garras extensas buscar-nos para o ETERNO. Falo-lhes da morte. Essa, sim, a detentora de todas as sabedorias, de todas as respostas, de todos os compromissos que ainda teremos quando partirmos para outros campos onde ceifaremos o que um dia plantamos por aqui!

Impressionante, não? Lidamos com esses termos todos os dias como se eles simplesmente existissem por existir. Haja vista que todo ser humano se julga um imortal ou um “imorrivel” – como diria meu pai que recentemente abandonou seu corpo terreno para assumir sua forma etérea e (ETERNA?) – mesmo sabedores que são cada homem e mulher em idade da lucidez que um dia tudo acaba em coroas de rosas e espinhos, para lhes ser mais leve.

Dentre as muitas religiões, doutrinas e crenças por onde circulei nesses últimos 53 anos de vida, só uma coisa é comum a todas elas: A partir do momento em que nascemos já deixamos de ser ETERNOS, uma vez que que a cada inflar de pulmões, a cada caminhada percorrida, a cada piscar de olhos morremos um pouco mais a cada dia, cada hora, minuto e segundo.

Assustador, não acham?! Eu, como sou um tanto exagerado diria tenebroso saber que nossos corpos tão bem tratados, banhados, perfumados e educados ao longo de anos, um dia simplesmente pararão de respirar e... pronto! Lá estaremos nós a caminho da ETERNIDADE. Prestar contas com Deus sobre as coisas boas e más que por aqui praticamos ao bel-prazer de nosso livre arbítrio.

Tenho visto e ouvido sobre atrocidades em noticiários sem número, você que hora me lê. Se isso não for o Final dos Tempos como reza a Bíblia católica em seu Apocalipse, que eu esteja enganado. Mas tempos escuros se aproximam o que nos deve levar a refletir como foram nossos dias e responsabilidades até hoje. Para que se a ETERNIDADE nos chegar ao sabor do imprevisto possamos tentar quitar nossas contas com o além de maneira um pouco menos dolorosa.
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*Túlio Monteiro. escritor, crítico literário, publica todas as segundas aqui no Evoé! O texto "Eternamente?" foi escrito no dia 11.02.2018. Leia também Literatura com Túlio Monteiro.

2 comentários:

  1. E que seja eterna enquanto dure...já dizia o poeta Vinícius de Moraes. Interessante como Não tem nenhum mistério a trajetória de qualquer ser que habita essa galáxia, nasce, cresce, desenvolve e...bre....morre. Aí ficam os cientistas e os poetas loucos com seus devaneios a tergiversar sobre eternidade e o descambau...como Não fosse simples o caminhar de uma criança e a curvatura do corpo de um idoso a passear com seu anteparo (bengala)...e como diria algum maluco "compre-me um bode" e vai viver que é melhor, pois o tempo passa rápido e é cruel. Eternidade pra que mesmo? Pois como diria o grande Belchior,,"viver e melhor que sonhar"...Fui, e não né venham com flores e espinhos na despedida e sim com música e dança.

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  2. Mais uma vez se faz presente com sua afiada pena Clauton Rocha. Incisivo, escrachado, sincero mas acima de tudo real nos comentários que por aqui costuma deixar. Obrigado mais uma vez por suas perspicazes explanações. Túlio Monteiro.

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