domingo, 21 de outubro de 2007

Carta Aberta às famílias leitoras de Jardim-CE

Recebi, em meu e-mail, desta menina da foto (captada pelas lentes de Chico Gadelha), um convite muito especial:


Joélia Vieira, agente de leitura em Jardim, CE

Oi Kelsen, Agente de Leitura Joélia, há quanto tempo heim? Ei estou convidando-lhe para um encontro de sensibilização entre as famílias com que trabalho, será no dia 28 de outubro às 13:00 h em minha residência no Sítio Jardim, em Jardim - CE.

Conheci Joélia e mais 23 pessoas lindas, em maio de 2006, em Assaré, onde fui ministrar uma capacitação ("Sensibilização e Pedagogia da leitura") para os agentes de leitura de lá e de Jardim. Ambas ficam no Cariri, ao sul do Ceará. Os Agentes de Leitura são um bem-sucedido projeto idealizado naquele ano por Fabiano dos Santos, então coordenador de Políticas do Livro e Acervo da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, a coordenação do projeto coube a Geórgia Zaranza e contava ainda com a colaboração de Andréa Hávt Bindá ("um beijo, Dea, onde você esteja").
Financiado pelo Fundo de Combate a Pobreza - Fecop, o projeto desde o primeiro semestre de 2007, está meio esquecido pela gestão que assumiu o governo este ano. Sem receber, respectivamente, a bolsa e o pro labore, tanto os agentes como os coordenadores do projeto, que já virou política pública de estado, continuam trabalhando. O estranho é que a verba está disponível, mas não é repassada, e ninguém se digna a explicar a razão. (Veja o projeto).

Impossibilitado de ir ao encontro, por compromissos anteriormente assumidos, em resposta a seu convite, escrevi uma carta aberta às Famílias Leitoras de Jardim. E na intenção de estar bem pertinho, pedi que Joélia Vieira a lesse em meu nome. Seria emocionante chegar aos presentes saindo dela, como num parto poético. Eu me harmonizaria com todos e todas pela harmonia entre mim e ela. O coração deles e delas pulsaria pela emoção de seu coração ao ler o que o meu coração pulsa ao escrever para todos.


Eis a carta:


Famílias leitoras de Jardim,

Meu nome é Kelsen Bravos e além de escritor sou fã dessa pessoa que ora me lê para vocês. Desde que a vi ainda em maio de 2006, lá em Assaré, senti o quanto havia de intensidade poética, de beleza e compromisso social em seus sonhos. E hoje eu estar aqui, participando desta sensibilização junto a vocês assim sendo lido por ela é a maior prova de que o quanto senti a respeito de Joélia era verdadeiro, pois ela é uma GENTE de leitura que semeia livros no coração de cada um de nós com muita força poética, beleza e compromiso social.

Parabéns a vocês todos, dos mais pequeninhos aos mais grandões, dos mais velhos aos recém-nascidos, parabéns, por serem uma família de leitores que se emocionam, sonham e despertam com a fé transformadora do bem social. Quero abraçar a todos e dizer que os amo.

Amar é uma palavra muito importante. Vem da palavra amor. A palavra amor significa não deixar morrer. É por isso que quando uma pessoa muito querida morre, nos sentimos tão impotentes; porque temos a impressão de que junto a ela se foi também nossa capacidade de não deixar morrer, que o nosso amor faliu, acabou. Mas não é assim que nossa capacidade de amar acaba. Ela só acaba quando a gente desiste de amar. Se é que acaba...

Amar, como já lhes disse, é não deixar morrer. Não deixar morrer uma planta, um bichinho, uma idéia, um sonho bom, as pessoas, é não deixar morrer antes da vontade de Deus.

Amar é não deixar morrer a lembrança de quem nos é caro. É preservar as coisas, a natureza, a memória, a cultura, as pessoas.

Eu queria abraçar e dizer isso a todas as pessoas do mundo. Mas no mundo existem mais de seis bilhões de pessoas espalhadas por todos os lugares. É por isso que escrevo, para que, mesmo depois de eu ter-me ido prestar contas com o Além, continue "falando" com elas a partir do que deixei escrito.

Com meus livros quero afirmar o amor que sinto pelas pessoas, pelas coisas e seus lugares. São uma forma de eu dizer: vamos amar uns aos outros e amar nossos lugares, as coisas e todas as outras formas de vida, as plantas e os animais. Não podemos deixar morrer nossas idéias, nossas emoções, a natureza, as pessoas (ou a lembrança delas)... não podemos deixar morrer nossa cultura. Escrever é, portanto, um ato de amor.

Entretanto existe um gesto de amor mais importante do que o de escrever. Sabem qual é? Vou lhes dar uma dica:

Imaginem um livro numa estante, sem ninguém pegá-lo. Se ficar assim cem anos, ele ficará cem anos morto. Mas se você pegar esse livro e começar a lê-lo, você estará fazendo um gesto divino de amor; estará ressuscitando quem escreveu, e aumentando a própria capacidade de ler e entender o próximo e a si mesmo, estará ampliando a sua capacidade amar.

Portanto, leiam, leiam sozinhos e leiam em grupo, leiam sempre, porque ler é amar!

Um beijo azul,

Kelsen Bravos

9 comentários:

  1. meu amado,amigo, que bom que esse blog existe!
    Porque passei pouas horas fisicamente ao teu lado, considerando que eu tenho SÓ 37 anos , e vc, alguns dias a mais,mas esse blog redime, e eu sei q vc acredita nisso
    Viva o nosso coração brasileiro!

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  2. Muito linda a carta, Kel-zen. :)

    Abraço pra não deixar morrer o nosso amor,

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  3. Caro primo...
    Amar antes de tudo é acreditar no que se faz e principalmente em observar a beleza dos sonhos de outrem..
    Enfim, sua sensibilidade e inteligências me faz acreditar no futuro de nosso País.. agora nas políticas governamentais? e nos governantes... É brincadeira...

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  4. Com relação a carta ao Povo de Jardim... que grande sacada em primão...
    Poesia...sonhos... Jardim... que grande coincidência poetica..
    e o melhor... continue nessa cruzada patriótica.. pela leitura.. até porque num País de analfabetos.... tu és Bravo até no nome.
    Um abraço do primão Clauton

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  5. linda carta!
    cantilena pra ninar o amor e acordar a vida...
    bjs grandes
    fabiana guimarães rocha

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  6. Meu irmão Bravos,

    sempre soube que você é especial e a cada dia mais se confirma esse meu conhecimento. É especial exatamente porque AMA e não esconde isso; ao contrário, divulga e ainda incentiva os outros a amarem também. Você é bênção, irmão; é semente boa que se finca nos corações acessíveis à semeadura dos quais brotam o que de bom por você é semeado. Em Jardim a leitura não morrerá, pois há semeadura sua ali.

    Abraço.

    Chico Araujo

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  7. Caros amigos, meus amores!

    Meu amigo Marcos Bluesman Boi, somos irmãos. E viva o povo brasileiro! Viva nós!

    E Viva a Joélia! E Viva Jardim! E Viva os Agentes de Leitura!

    Meu AMigo Eduardo Loureiro Jr.,

    Que bom que você comunga esta carta comigo. Isso a qualifica.

    Os comungamos nosso trabalho junto aos Agentes de Leitura.

    (Com felicidade lembro de quando você me codinominou de Kel-zen, durante a VII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Um maior sufoco e a meninada ávida de livros e leituras. Havia gente grande pensando enloquecer. Você visitava o Pavilhão Infantil. Logo nos percebemos em sintonia, sabíamos que tudo estava bem e tudo foi-se conformando até ficarem as crianças felizes na mais verdadeira das expressões da Paz, a Paz de Criança se divertindo.)

    Queridos primos (o Clauton se identificou),

    As políticas governamentais e o Estado do cidadão para devem ser exercidas, é nosso, portanto. Todo governo é passageiro. Cabe a nós vigiá-los, cobrar deles a devida ação, e apoiá-los para acertarem.

    O projeto Agentes de Leitura está sendo replicado em vários estados. Até a Argentina que é um mais mais leitor do que o nosso está se inspiorando nele. Não creio que haja solução de continuidade do projeto na atual gestão.

    Estaremos todos atentos.


    Minha doce Fabiana, amada poesia,

    Já batizou minha carta de poesia.

    Obrigado.

    Meu caro amigo Chico,

    Meu admirado irmão.

    Vocês todos me acumulam o peito de felicidade.

    E Viva a Joélia! E Viva Jardim! E Viva aos Agentes de Leitura!

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  8. Belo texto, amigo-irmão Kelsen Bravos. Visite meu blog hoje. Convido você para o tal "meme da página 161". Abração!

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  9. Valeu, Lira Neto, visitei seu blog e participei do tal meme da 161.

    Isso já faz algum tempo, né?, no que será que deu?

    Um abraço,

    Kelsen

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