Sim, amigos leitores. Meu nome está nos dicionários e muito bem grafado. O túlio é um elemento químico de símbolo Tm, número atômico 69 com massa igual a 168,9 u. À temperatura ambiente, o túlio encontra-se no estado sólido e faz parte do grupo das terras raras sendo que seu metal apresenta brilho cinza prateado e facilmente trabalhado, podendo ser facilmente cortado com uma faca. Apresenta, ainda, resistência à corrosão quando exposto ao ar seco. O túlio natural é composto inteiramente de um único isótopo estável e devido ao preço elevado, seus compostos não apresentam aplicação economicamente viável.
Ele foi descoberto pelo químico sueco Per Teodor Cleve, em 1879, que o encontrou ao procurar impurezas nos óxidos de outros elementos terras raras. Cleve iniciou sua busca removendo todos os contaminadores conhecidos da “érbia” (Er2O3) obtendo duas novas substâncias, uma marrom e outra verde. A substância marrom era o óxido do elemento hólmio que foi denominada pelo pesquisador como "hólmia", sendo a substância verde um óxido de um elemento desconhecido. Cleve denominou tal óxido verde de "túlia" e o seu elemento de túlio, advindo de "Thule", um nome romano antigo para uma ilha mítica no Norte distante, talvez a Escandinávia.
Pois bem, qual de vocês pode se dar ao luxo de ter o nome evidenciado em dicionários não só brasileiros, mas mundiais?! Esse simples escritor que sonha em ser romancista pode e acha graça das nuanças que a vida dá, uma vez que meus pais, pouco dotados de conhecimentos, nunca imaginariam que estavam dando ao seu filho único o nome de um dos metais mais raros da natureza, que apresenta uma toxicidade de baixa a moderada, tendo que ser manuseado com cuidado, uma vez que seu pó metálico é passível de entrar em combustão explosiva, bem ao modo desse que ora voz escreve: um ser explosivo e passível da misericórdia de seus pares.
E cresci com essa alcunha, vindo a descobri-la somente em meus estudos secundários, quando a tabela periódica nos é empurrada goela abaixo para que possamos aprender coisas sobre a física e suas decorebas, o que para um escriba nada mais é que a tortura máxima de um verbo a ser conjugado.
Fui menino levado e pouco afeito aos estudos mais clássicos, preferindo a leitura de revistas em quadrinhos e livros emprestados por meu tio Francisco Pereira da Silva. Um nobre esteta que um dia resolveu me apadrinhar no sentido do beletrismo que só me apresentou quando achava que era hora dos conhecimentos mais sérios.
E foi na idade um pouco menos tenra que fui apresentado aos clássicos de Júlio Verne e da História mundial, aprendendo rápido sobre as beligerâncias das duas Grandes Guerras que o planeta presenciou, não me furtando nunca, é claro, da diversão dos HQ’s de outrora.
Já ando por aqui há 53 anos bem rodados, diga-se de passagem. Já vivi a poesia de Mário Gomes e de um tal José Alcides Pinto. Lancei poesia na Praça do Ferreira e fiz dos escritores de minha terra natal algo assim alhures sob minha batuta.
E como disse antes, sempre sonhei em ser romanista, uma vez que quando da leitura de Como e porque sou romancista, de José de Alencar, até hoje insisto que ainda vou escrever meu primeiro romance. Algo assim meio que uma insistência intelectual que povoa qualquer um que escreve em versos e prosa curta. Agora se me permitem deixem-me falar um pouco dessa aprazível obra de José de Alencar.
Como e porque sou romancista, escrito em 1873 e publicado postumamente em 1893, é a autobiografia intelectual de José de Alencar, importante para o conhecimento de sua personalidade e dos alicerces de sua formação literária.
É um autêntico roteiro de teoria literária, o qual, reunido a outros ensaios, pode bem constituir um corpo de doutrina estética literária, que o norteou em sua obra de criação propriamente dita, sobretudo no romance, onde o autor enfatizou, em sua formação escolar, a importância dada à leitura, com a correção, nobreza, eloquência e alma que o mestre Januário Mateus Ferreira sabia transmitir a seus alunos. Ainda menino, como ledor dos serões da família, teve oportunidade de contínuo e repetido contato com um escasso repertório de romances, cujos esquemas iam ficando gravados em seu espírito. Alencar ainda nos conta que, com pouca idade, comovia familiares e amigos com suas leituras em voz alta onde todos sentavam à sua volta para ouvi-las.
E foi esse mais um dos livros lidos, hoje obra de domínio público, que me conduziram quase que por acidente ao exercício da escrita. Sem nunca, porém, me aventurar além dos meus domínios que se resumem ao escrever de tiro rápido, como bem enfatizei anteriormente. Entretanto, o desejo de um romance nunca sai da mente de quem se julga escritor, o que deveras me sinto hoje: um Túlio, um metal raro de condução elétrica fácil e explosivo por natureza.
Sei que essa não é uma das minhas melhores crônicas, como sei também que receberei severas críticas de meu editor. Porém, insisto no exercício da crônica nos seus moldes acadêmicos. Bem ao estilo de um Moreira Campos, mestre maior da escrita rápida cearense. Esclareço isso porque alguns de meus pares, mas especificamente um deles, insiste em escrever para o abecedário Evoé! Crônicas com formato de contos, o que deveras não está correto e que sei por insistência minha o senhor Kelsen Bravos há de corrigir daqui por diante, sob pena de comprometer, em muito, o objetivo principal de seu projeto: uma crônica para cada letra do alfabeto.
Despeço-me, pois, de mais essa letra magnificamente pertinente à minha pessoa, certo de que trouxe até vocês, prezados ledores e ledoras, um pouco mais de bonança aos atribulados dias que vivemos.
Não poderia me furtar, como todo bom brasileiro, ao fato de que essa crônica está sendo escrita na madrugada do dia 22 de junho de 2018, às vésperas do jogo Brasil e Costa Rica. Esperando, claro, que nossa seleção não amarele a camisa amarela mais cobiçada do planeta bola. Avante, Brasil! Saudações à pátria do futebol.
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*Túlio Monteiro - escritor, crítico literário, ensaísta
Humilde e raro "simbolo quimico", explosivo ou não, representado ou não nas linguas mundiais como um metal nobre, o que importa é o que atribuiam a um tal de "rei midas" que supostamente no que tocava virava ouro. Essa é a sua virtude com seus escritos mais contraditórios, pessimistas ou cruéis há neles a sensação e quase certeza de que os transformou em ouro.
ResponderExcluirTemos mais uma vez um Clauton agudo no que se refere ao detectar das intenções literárias desse humilde escritor. O cara é bom. Tanto que deveria escrever também para o Evoé! Fica aqui lançado o desafio. (Túlio Monteiro).
ResponderExcluirLonge de fugir de desafios, entretanto não estou a altura de eacrever nesse seleto blog, até porque não distinguiria um conto de uma crônica. Já me senti deveras honrado de ter sido fonte de inspiração para o nosso "midas" e logo eu que nem metal nobre sou. Ademais (adoro essa palavra) poderia te enviar alguns escritos, que com seu toque áureo poderiam se tornar fonte de inspiração para seu romance.
ExcluirPois está é feito. Que venham os escritos em contribuição ao romance dejado por mim. Saudações literárias, caro Clauton. (Túlio Monteiro).
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