À amada amiga Dudu Molotóv,
encantada a 25 de maio de 2018.
"E por falar em saudade, onde anda você..." - ao telefone (aquele meio de comunicação das antigas) uma querida e amiga voz doce, macia, quente me afaga a lembrança com carinho e emoção. Deixo-me a esse acalanto me transportar a um tempo sem o ativismo dos dias de hoje, a nos consumir e transformar em rotineiros, sem vontade ou teoria ou algo mais. Pelo arrebatamento do bolero, viajo até o bom tempo de ter tempo de reclamar da falta de tempo e de experimentar um sentimento assim de Pessoa, como descobrir o prazer de não cumprir o dever.
A voz insiste na saudade do "Kelsen pra cima, sonhador, otimista," que fale da poesia como uma estância da liberdade. Ou da liberdade como uma instância da poesia. Pede que faça um texto feito esse eu: "carregado de doçura" (diz ela). Reivindica-me com saudade de mim. Tenha saudade não, estamos sempre juntos. "Saudade a gente sente quando o presente não vai bem." Saudade é uma imperadora autoritária, uma déspota esclarecida, a quem precisamos humanizar. "Faz tempo o quando insistíamos em ser livres para defender a liberdade."
Eita bom tempo aquele em que a liberdade nos era uma tão palpável utopia, até valia por ela estar preso, pois ser livre é lutar por justiça e não pelo cego cumprimento a lei. Ser livre é também saber enfrentar o próprio destino e mudar qualquer condição de dependência (até do amor tranquilo que a sorte nos trouxe). Todos queremos ser livres; mas quem quer mudar? O presente está a nos exclamar: Que grande massa de escravos somos nós! Não sabemos nem transgredir, vivemos numa "boemia sem razão de ser..."
Bem eu queria ser cronista dos bons, feito o Antônio Maria ou Rubem Braga ou Airton Monte... bem eu queria escrever os textos que me reivindica minha doce amiga... E para isso sintonizar minha emoção com o meu tempo e lançar o olhar mais cheio de vida sobre todas as coisas e pessoas e surpreender sempre o velho triste e turrão (que mais do que nunca agora habita em mim), provocando em mim mesmo (os outros merecem muito meu respeito!) um sorriso de esperança e fé nas coisas e pessoas e, apesar de minha tendência melancólica, fazer brotar uma alegria até mesmo em mim. Otimista, quem sabe, engraçado a ponto de trazer felicidade, mesmo momentânea, às pessoas, um riso que seja, uma boa emoção...
Queria de volta o meu otimismo tal qual o do "José", de Drummond, que apesar de tudo, sem teto e sem teogonia, sem paredes nuas para se encostar, marcha, sem destino; mas segue em frente. Que esta saudade me fortaleça, a fim de mesmo ainda que venha a ser este nosso presente um mais profundo tempo do “faz escuro”, eu cante (a bênção Thiago de Melo). Cantarei, entretanto, não com os otimistas, pois o otimista é aquele que não tem nada a perder. Cantarei simplesmente como quem um grande nada tem a perder. Cantarei como invencível. Evoé!
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*Kelsen Bravos - escritor, professor, compositor, editor do Evoé!
Ora, ora! Vejo um Kelsen crônista rejuvenescido. Algo assim com sabor de menino levado na arte de reinventar sempre o sempre divertido e lúdico mundo das palavras. Ao meu par em seu abecedário, ficam meus parabéns e muitos anos de vida. Ave, Kelsen! (Túlio Monteiro).
ResponderExcluirEvoé, Túlio Monteiro, evoé!
ExcluirAve, Kelsen!
ResponderExcluirEvoé!BRAVOS!Evoé!
ExcluirAve, Gláucia, cheia de graça!
Beijos, beijos! I love tu
ExcluirOi, querido. Saudade! Pode ser? Adorei a crônica. Pensando que o otimista é feliz por obrigação e que felicidade é não desejar mais nada. Ser completo com o que se tem nesta vida. Falo de coisas e pessoas. �� (Leda Rocha)
ResponderExcluirLer você, primo, é minha dose garantida de emoção. Coração balança e se desmancha. Belíssima crônica. Belíssimo presente. A Dudu merece! (Vanessa Capibaribe Monte)
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