De acordo com o que lembro, o diálogo dos dois naquela manhã, até o momento em que pude ouvi-los, incógnito, transcorreu assim:
- Tá macambúzio?
- Chateado. Aborrecido. Irritado. Injuriado. Meditativo.
- Meditativo você está sempre.
- Hoje estou mais, bem mais que meditativo. E acho mesmo que lhe enunciei eufemismos. Tudo hoje está muito mais, potencialmente muito mais... Além mesmo do que se possa querer nominar, adjetivar...
- E por que tanto assim?
- Porque não se consegue caminhar em areia movediça.
- Como é que é?
- Não se planta nada em terreno infértil.
- Onde quer chegar, homem de Deus? O que está querendo dizer?
- Em terreno fértil, você planta e tempos depois colhe aquilo que plantou. Natural e benfazejo. Em solo infértil, nem jogue semente, que ela será desperdiçada.
- Mas, o que lhe acometeu hoje?
- Não é só de hoje; talvez esteja reduzindo as indignações guardadas aqui dentro desde antes de antes de antes... de ontem. Hoje é dia de transbordamento. Acho que a represa está se derramando. Tanto represamento elevou o nível do represado e agora primeiro ele está se pondo para fora. Torço para que a pressão não se torne tão grande a ponto de explodir. Explodindo, será o caos. Serei caos.
- Tá tão cinza assim essa sua manhã?
- Não é a minha manhã. Não é o hoje. Aliás, o hoje resulta dos "ontens". Então, estou mesmo é tentando dimensionar o amanhã.
- Carpe Diem.
- O Carpe Diem pode ser a exata medida do que se viva hoje em intensidade adequada ao esboço do amanhã. Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Eu, cada vez mais, quero enxergar.
- E o que você quer realmente ver?
- Aquilo que seja preciso e necessário. Tudo na exata medida.
- Seria realmente bom se pudéssemos alcançar tudo o que necessita de ser alcançado. Sou-lhe solidário, mesmo sem que tenhamos qualquer luneta.
- Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Aqui, com você, sei que estou em boa companhia.
- Estamos. Embora, por amplo contexto, sejamos integrantes dessa enorme “Casa de mãe Joana", não compactuamos com ela. Isso nos alenta e nos fortalece.
- Não nos deixamos levar pelo "Conto do vigário", não é mesmo?
- Parece que se equilibrou um pouco. Sua fala parece estar mais calma, mais tranquila.
- Pode ser... Mas há indignação tanta... A calmaria pode ser um dado falso. Sinto que não há bonança nesse momento; ainda persistem os ares de tempestade.
- Aos poucos, tudo se vai ajeitando.
- Não sei se é algo semelhante ao da "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.".
- Não, talvez não seja mesmo; mas veja – já que deseja ver – talvez os "Sem eira nem beira" estejam conseguindo suplantar essa condição que lhes foi injustamente imposta. Em sendo verdade, não se ficará mais a ver navios.
- Diz-se que "A esperança é a última que morre".
- É... Agora tenho certeza de que há alguma calmaria em seu espírito, mesmo que tênue...
- Talvez... Talvez...
- Não crê?
- Tenho vivido tantas experiências surpreendentes em meus dias... tanta coisa tem acontecido a tanta gente...
- São os dias, amigo, são os dias...
______________
*Chico Araújo - professor, poeta, contista e compositor, publica toda quarta-feira no Evoé! O título "Provérbios populares" compõe o Abecedário de Crônicas do Evoé e foi escrito entre 29 e 30 de maio de 2018. Leia mais Chico Araújo emVida, minha vida...
- Tá macambúzio?
- Chateado. Aborrecido. Irritado. Injuriado. Meditativo.
- Meditativo você está sempre.
- Hoje estou mais, bem mais que meditativo. E acho mesmo que lhe enunciei eufemismos. Tudo hoje está muito mais, potencialmente muito mais... Além mesmo do que se possa querer nominar, adjetivar...
- E por que tanto assim?
- Porque não se consegue caminhar em areia movediça.
- Como é que é?
- Não se planta nada em terreno infértil.
- Onde quer chegar, homem de Deus? O que está querendo dizer?
- Em terreno fértil, você planta e tempos depois colhe aquilo que plantou. Natural e benfazejo. Em solo infértil, nem jogue semente, que ela será desperdiçada.
- Mas, o que lhe acometeu hoje?
- Não é só de hoje; talvez esteja reduzindo as indignações guardadas aqui dentro desde antes de antes de antes... de ontem. Hoje é dia de transbordamento. Acho que a represa está se derramando. Tanto represamento elevou o nível do represado e agora primeiro ele está se pondo para fora. Torço para que a pressão não se torne tão grande a ponto de explodir. Explodindo, será o caos. Serei caos.
- Tá tão cinza assim essa sua manhã?
- Não é a minha manhã. Não é o hoje. Aliás, o hoje resulta dos "ontens". Então, estou mesmo é tentando dimensionar o amanhã.
- Carpe Diem.
- O Carpe Diem pode ser a exata medida do que se viva hoje em intensidade adequada ao esboço do amanhã. Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Eu, cada vez mais, quero enxergar.
- E o que você quer realmente ver?
- Aquilo que seja preciso e necessário. Tudo na exata medida.
- Seria realmente bom se pudéssemos alcançar tudo o que necessita de ser alcançado. Sou-lhe solidário, mesmo sem que tenhamos qualquer luneta.
- Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Aqui, com você, sei que estou em boa companhia.
- Estamos. Embora, por amplo contexto, sejamos integrantes dessa enorme “Casa de mãe Joana", não compactuamos com ela. Isso nos alenta e nos fortalece.
- Não nos deixamos levar pelo "Conto do vigário", não é mesmo?
- Parece que se equilibrou um pouco. Sua fala parece estar mais calma, mais tranquila.
- Pode ser... Mas há indignação tanta... A calmaria pode ser um dado falso. Sinto que não há bonança nesse momento; ainda persistem os ares de tempestade.
- Aos poucos, tudo se vai ajeitando.
- Não sei se é algo semelhante ao da "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.".
- Não, talvez não seja mesmo; mas veja – já que deseja ver – talvez os "Sem eira nem beira" estejam conseguindo suplantar essa condição que lhes foi injustamente imposta. Em sendo verdade, não se ficará mais a ver navios.
- Diz-se que "A esperança é a última que morre".
- É... Agora tenho certeza de que há alguma calmaria em seu espírito, mesmo que tênue...
- Talvez... Talvez...
- Não crê?
- Tenho vivido tantas experiências surpreendentes em meus dias... tanta coisa tem acontecido a tanta gente...
- São os dias, amigo, são os dias...
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*Chico Araújo - professor, poeta, contista e compositor, publica toda quarta-feira no Evoé! O título "Provérbios populares" compõe o Abecedário de Crônicas do Evoé e foi escrito entre 29 e 30 de maio de 2018. Leia mais Chico Araújo emVida, minha vida...
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