quarta-feira, 9 de maio de 2018

O marido, a mulher, a mãe, o maio - Chico Araújo*

De acordo com a praxe anual, o marido foi ao médico, sozinho.

- Bom dia, doutor.

- Bom dia. Como o senhor está?

- Sinto-me bem.

- Nada de diferente?

- Não, nada. Pelo menos não que eu tenha percebido.

- Ótimo. Mas alguns dados de seu exame clínico estão apontando variações em relação aos anteriores. Vamos conferir, né?

- Certamente.

Exame de segurança feito, a primeira palavra:

- Aparentemente, tudo certo; não percebo anormalidade. Mas vamos ampliar essa investigação por conta dos exames clínicos. O senhor fará o seguinte...

Tudo feito de acordo com as orientações médicas, eis que no retorno ao especialista ouviu dele:

- Avalio que encontramos um problema em sua saúde; devemos, portanto, dar atenção especial a ele, para darmos boas condições a ela.

- E o que devo fazer?

- De imediato e por importante, não fique apenas com minha avaliação. Vá a outro perito e escute dele sua avaliação para o caso.

Foi, não a um, mas a dois outros. As palavras de um e outro mudavam aqui e ali, mas as avaliações se deram sempre no mesmo plano e as sugestões apontaram todas para o mesmo caminho.

O marido entendeu ser preciso caminhar de acordo com as opiniões especializadas.

A mulher, sabedora de todo o infortúnio, primeiro foi palavra tranquilizadora, acolhedora. E sem demora, as ações de força e garra estupendas puseram-se a falar e a orientar em tranquilidade, sob as orientações dos doutores.

Pela Fé, orou e pediu, pediu e orou, e mesmo não deixou de vigiar, de perscrutar, de inquirir, às vezes de maneira direta, outras de forma sutil, de soslaio, o marido, aquilatando o espírito dele diante do caso. Percebeu múltiplas sensações e as entendeu tanto quanto compreendia a necessidade de um porto se tornar seguro ao navegante meio que à deriva. Segurou-o.

E caminhou junto.

A mãe foi aos filhos. De suas interpretações e vivências, incitou:

- Eis um momento em que o pai mais que nunca precisa dos filhos. E esse momento chama-se agora e, mais ainda, agora mesmo, é esse instante. Atenção, apoio, respeito, carinho, amor... Se porventura não houve como demonstrá-los claramente até há pouco, desde agora precisa ser posto e exposto de maneira aberta, sem qualquer possibilidade de dúvida. Gestos, palavras, atitudes, sorrisos, serviços... Tudo isso precisa ser realizado desde já na exata medida necessária. Não mais, não menos; mas plenamente de forma verdadeiramente verdadeira, honesta, pura.

Os filhos ouviram a mãe e sinceramente aquiesceram. E foram dignos em toda a travessia agitada naquela inusitada turbulência. Por compreensão à mãe e por atenção às necessidades do pai, mais do que sempre foram, foram singularmente filhos.

A mãe tranquila quanto aos filhos, pois o sabiam ser, determinou-se altruísta ao marido em prática perfeita.

A mudança das marés, de tranquilas para inquietas, turbulentas, inaugurou-se em um dezembro; quando recomeçaram os sopros amenos dos ventos da bonança, abril já se encaminhava para ceder seu lugar ao maio, especialmente o mês das noivas, o mês das mães, o mês, enfim, também especialmente, de felicidades e bênçãos.

No maio, desordens em dissipação, a mulher pontua ao marido:

- Por tudo o que vemos e sabemos, o pior passou. Agora é seguir em frente, vivendo nova etapa na existência.

- Sim. “Vida que segue” em “andanças com Fé”.

E que assim seja.

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*Chico Araújoprofessor, poeta, contista e compositor, publica toda quarta-feira no Evoé! O título "O marido, a mulher, a mãe, o maio" compõe o Abecedário de Crônicas do Evoé e foi escrito entre 07 e 08 de maio de 2018. Leia mais Chico Araújo em Vida, minha vida...

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