segunda-feira, 9 de abril de 2018

IGNÓBEIS - Túlio Monteiro*

Eis que mais uma vez as asas negras dos militares ameaçam se abrir sobre esse Brasil sempre cabisbaixo. Inadmissível um general da reserva – resquício-mor do terrível 1964 e seus anos de chumbo – vir a público brandir sua espada de lâmina cega e dizer que se um ex-presidente civil não fosse preso haveria uma intervenção militar no nosso Torrão-natal. 

Pois ele foi preso, general. E o senhor voltou para seu ostracismo de três estrelas de onde, espero, nunca mais apareça na mídia sensacionalista que abarca todas as partes desse País-continente ainda chamado Brasil. Sim! Ainda se chama Brasil, pois pelo andar da carruagem bem que nosso desamado e desalmado Poder Legislativo poderia lançar mão de seus podres poderes para mudar o nome de nossa Pátria já que rasgaram a Constituição Federal há muito tempo.

Sinto-me descontente com a vida que o povo brasileiro anda levando, parecendo mais os conformados judeus condenados por Hitler aos campos de exterminação. Levantam todos os dias e partem para seus trabalhos – quase sempre de baixas remunerações – para batalharem o pão de cada dia. Se perambulo por entre essas caras amarradas e amargas vejo-as e sinto seus cheiros buscando soluções para o impossível de se resolver. Percebo o povo brasileiro como cordeiros entregues ao abatedouro, de cabeças baixas a procurar nas pontas de seus sapatos soluções para o inadiável: o afundamento total de um Titanic chamado Brasil.

Porém, como já se refere um dito popular: cada povo tem o Governo que merece. E os IGNÓBEIS votantes de nossa Pátria Amada – em sua maioria – nem sequer se recordam os nomes dos candidatos nos quais votaram. Você por acaso é um deles? Risos. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas em um grupo que discutisse as eleições presidenciais de três anos e meio passados duvido que você não gaguejasse para responder quais os nomes e números dos que sacramentastes no sufrágio de 2014.

Para esculhambar ainda mais um pouco, estamos em um ano de Copa do Mundo, quando a “Pátria de Chuteiras” – antonomásia miserável cunhada por Nélson Rodrigues – vai mais uma vez disputar o certame futebolístico mais cobiçado do planeta. E olhem que fomos os primeiros a nos classificar para tal evento. Seria de dar crises de riso se fôssemos os primeiros a voltar, lascando com a indústria de produtos verdes-e-amarelos que surge do nada a cada quatro anos.


E por falar em futebol e fedor de ditadura, nunca é demais lembrar que o presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici – interventor militar que comandou com mão-de-ferro o País entre 1969/1974 – no ano de 1970 valeu-se escancaradamente do tricampeonato conquistado pela seleção nacional de futebol de Zagallo e companhia para afirmar que o Brasil era um País que estava indo para a frente. Balelas que deram pão e circo à população desse Brasil até hoje tão carente de ídolos e mártires.

Eu disse mártires? Será que a mídia, o poder que transpira dos corredores do Planalto Central, o povo brasileiro e afins estão criando o início da história de nosso primeiro mártir do século 21? Nome que veio substituir Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Uma espécie de herói combalido que se entregou às garras afiadas da Lei mesmo contra a vontade de boa parte dos nativos brasileiros?! Pode ser que sim, pode ser que não.l

O fato é que no final das contas esse possível mártir que em tribunal nenhum do Mundo seria condenado sem as devidas provas concretas e palpáveis sairá um dia da prisão ainda mais forte – um Mandela de pele branca. Sei que serei questionado sobre essa breve e contraditória crônica, mas para que servem as crônicas, as poesias, os romances e textos mil senão para serem questionados? Dou mais uma vez o rosto a tapas desta vez com convicção. Pois a insatisfação com os rumos que minha Terra Natal está tomando me é cortante como faca reluzente, bem diferente das espadas enferrujadas que ficam dependuradas nas paredes de generais caquéticos que nada mais sabem e fazem das suas vidas a não ser vestirem suas fardas, fardões e camisolas de dormir, ainda honrando um 7 de setembro que nunca me enganou ter existido nos moldes dos livros de História que me acompanharam a infância e adolescência.

Torna-se preciso, pois, que algo seja feito. Se me perguntassem “O quê?” Eu diria: – entreguem a Deus. Mas como também tenho rusgas com o Comandante Maior da Humanidade, ficaria muito feio eu dizer algo da boca para fora sobre outro “cara” no qual também não acredito piamente. Mas isso é assunto para outra crônica que virá por aí, me importando agora alinhavar, cozer, costurar o arremate dessa que escrevo agora para o abecedário do blog Evoé!

A população brasileira está em choque. Nunca se teve tantas informações vindas de todos os lados sobre os acontecimentos que rodam o Mundo. Para escrachar mais a coisa, ainda existe aquilo que se delimitou chamar no “internetez” de fakes, que nada mais são que notícias falsas implantadas até mesmo nos melhores meios de informação. Isso intriga! Isso assusta! Pois estamos, acredite, à beira de uma comoção social que fatalmente levará a uma guerra civil, caso algo não seja feito de forma pacifista para apaziguar a ânsia de soluções dos nossos compatriotas.

Termino essa crônica triste por conta de todos os desabafos e talvez desatinos que possa porventura ter cometido. Mas esses escritos semanais dos quais já sei que tenho seguidores(as) fiéis são minhas válvulas de escape para todos os problemas que deveras enfrento atualmente. Lutemos contra poderes que não nos permitem pensar e agir livremente. Isso é Fato!

Um forte abraço e até a próxima!

_________________
*Túlio Monteiro - escritor, crítico literário, pública todas as segundas aqui no Evoé! O texto "Ignóbeis" foi escrito no dia 08.04.2018. Leia também Literatura com Túlio Monteiro.

6 comentários:

  1. É muita coragem rebaixar um general a três estrelas! Muito bom!!! Soltou o grito que temos preso na garganta! Jane Azeredo - Teatróloga.

    ResponderExcluir
  2. Interessante texto/desabafo do nosso brilhante escritor trazendo a tona um assunto deveras delicado, a "idolatria e /ou os mártires" do momento. Como sou muito pragmático e objetivo, não vou comentar sobre o julgamento do nosso "mandela de pele clara", pois não conheço os autos...entretanto, muitos que tiveram acesso, advogados, juízes, desembargadores e ministros dos tribunais superiores, já analisaram e deram o veredito, infelizmente para uns, e "graças a Deus" para outros de culpado. Vem a pergunta, e seriam os "mártires e ídolos", inatingíveis pelas leis?.. Quanto a onda de manifestações, sejam elas a favor ou contrárias, nos dá a certeza de que ainda temos a liberdade de expressão...Mas a vida tem que seguir adiante, e que existam muitos debates esclarecedores, para que não fiquem dúvidas a esse povo tão carente de formação e de informação... e que Deus exista e nos guie para atravessar mais um período conturbado de nossa história.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Profunda e muito boa a sua crítica, Clauton. Seja sempre assim: verdadeiro. Aprendo com isso. Paz para esse País. Túlio Monteiro.

      Excluir
  3. Termino essa crônica triste por conta de todos os desabafos e talvez desatinos que possa porventura ter cometido
    Esse viés apelativo que domina hoje o senso comum não representa sua linha refinada habitual. No entanto, quem não sai da linha diante do quadro em que se encontra a nação?!
    Suely Andrade - Professora, escritora e crítica literária.

    ResponderExcluir
  4. Seu comentário enriquece, Suely. Sejas sempre assim: verdadeira em suas críticas. Mas tive que me resguardar e não dar nomes aos personagens da trama diante do quadro que nos é apresentado no Brasil. Talvez, em outra, eu seja mais ácido. Obrigado! Túlio Monteiro.

    ResponderExcluir
  5. Ainda temos a arma da Palavra p tentar banir a acidez dos maus tempos que ameaçam nosso porvir.Parabéns,pela sua lida diária,amigo!Resta-nos a já velha e constante LUTA!Márcia Matos

    ResponderExcluir