Não lembro de quando ouvi pela primeira vez a expressão "...de H", mas, sempre que penso nela, me vem a imagem de um primo querido explicando estratégia para se livrar de uma situação limite. Algo assim como a ginga de um bom capoeira que engana o olhar do oponente e confunde-lhe a lógica sobre a movimentação mandingueira.
Cabe também explicar o termo como sendo o drible no futebol, o bom e velho traço no adversário, cujo maior mestre é Garrincha. Uma vez ouvi o seguinte comentário sobre um traço a la Garrincha: "rapaz, foi assim: ele, um bocado de vez, fez que foi e não foi e, quando ninguém esperava, acabou fondo." Podemos concluir, então, ser o "...de H" aquilo que se aparenta fazer para esconder o que de fato se está fazendo. É mostrar para esconder. É não ser para garantir continuar sendo independente de inoportunos estraga-prazeres.
Essa energúmena figura, o estraga-prazeres, é muito bem definida por Chico Buarque de Holanda em "Apesar de você". A música lançada em 1970 foi um protesto contra a ditadura. O pronome refere o general Emílio Garrastazu Médici, o ditador de então. Nos dias de hoje, com muita paciência, vemos crescer em importância os versos da segunda estrofe da música de Chico: "Você que inventou esse Estado/ Inventou de inventar/ Toda escuridão/ Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar o perdão."
Nos dias de hoje, esse Estado é uma nova ditadura, muito bem planejada e executada em um golpe político-jurídico-midiático. Essa tríade golpista é o você no apesar de quem da música Em tudo que esse tal você faz, entra em cena o de H, pois se apresenta como uma defensora da Justiça, mas é só de H, diz defender a democracia, o estado democrático de direito, mas é só de H, diz representar o povo, mas é só de H, pois tudo que diz já está escrito, já está previsto e se algo sair do script do jogo de cena que planejou, muda o jogo, diz que o real não é real, pois o real é o discurso de H que faz, é o que repercute a grande mídia, que há muito abandonou a função de informar bem a fim de formar opinião pública de alto senso crítico para assumir o mero e vergonhoso papel de veicular opinião publicada de H, que os golpistas "inventaram de inventar".
A "toda escuridão", referida na música, nos dias de hoje, é a tão surreal situação que torna estraga-prazeres o Lula, a Dilma, representantes - eleitos! - que honraram e honram a Nação Brasileira. Vejam bem! O "você" deles é a Nação Brasileira. Promoveram um impeachment de H da presidenta Dilma. Foi impeachment de H, porque a presidenta não cometeu crime de responsabilidade algum. Foi golpe, mas a mídia diz que não. Vendem o país a preço de banana; mas dizem que é lucrativo. Lucrativo de H, pois colocam o país refém dos rentistas mundiais. Dizem combater a corrupção, mas é de H, pois de fato protegem e promovem a corrupção, quando argumentam que crimes com fartas provas não vêm ao caso e rasgam a Constituição Federal para condenar sem provas e prender inocentes. Que "pecado"! Sinto arrepios só de imaginá-los promovendo o "perdão", com certeza será um perdão de H.
Esse jogo de H, espero, esteja, nos dias de hoje, enquadrado pelo vaticínio de Ivan Lins e Vitor Martins na música Cartomante, que nos manda - para ficarmos vivos! - não dar motivo aos golpistas. Recomenda termos paciência, pois, segundo as cartas, as estrelas, os búzios e as profecias, já há de cair o Rei de espadas, o Rei de ouros, o Rei de paus... de tal modo a não ficar nada! É de H, meu povo, na verdade, como bons capoeiras, vamos nos aquietar e ceder ao poder deles, sejamos submissos, estamos derrotados... Evoé!
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Kelsen Bravos - professor, escritor, compositor e editor do Evoé!
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Kelsen Bravos - professor, escritor, compositor e editor do Evoé!
Concordo plenamente.
ResponderExcluirAté estou acreditando que estão sempre com "medo do medo que dá ". Sabedoria popular, Chico Buarque, Ivan Lins, Victor Martins em um digno escrito alegre, sincero, sincero, verdadeiro. O mais... É só "de H".
ResponderExcluirMeu Caro Amigo Chico Araujo, por esses dias tenho ouvido internamente sons de atabaque ritmando-me por inteiro o corpo e me faz cantarolar uma bênção e o refrão na voz de Maria Bethânia que em Carta de Amor diz: "não mexe comigo, que eu não ando só, eu não só. Não mexe não!"
ResponderExcluirEstamos juntos, amigo, não estamos sós!
A nossa causa é justa!
Evoé!
Uma causa justa e não estamos sós. Todas as frentes se unificar, cada uma sendo uma e sendo mais, porquanto elos em corrente se (re)tecendo. As frentes de cada um na "frente" de todos em uma. À frente.
ResponderExcluirSeria apatia ou desunião da própria esquerda? Que sociedade é essa que diante de tal feito não se ver ameaçada? Só de H ou só capa, como dizem pras minhas bandas, assisti e ouvi fogos comemorando a prisão do Lula, assim como ocorreu no Impeachment da Dilma, e desde lá, o que temos feito? Se o poder emana do povo, que façamos de fato algo por esse país antes dele ser entregue a outros poderes que não representam o pensar livre. Tempos sombrios. Lula foi e continuará sendo a realidade de muitos e também será o gosto amargo da "justiça" que o condenou. O feito do homem não será apagado, mas me pergunto e agora? Iremos agir quando a nossa liberdade não mais existir e estivermos encarcerados, se já não estamos em nosso guetos e caixinhas. Continuaremos inertes na frente do noticiário? Na verdade, temos aceitado que seja concretizado paulatinamente o projeto político que corrobora pra desigualdade social que temos vivido atualmente. Reclamamos, contudo, poucos estão dispostos a sair da sua zona de conforto (se é que ela existe). Nana
ResponderExcluirApatia é omissão, quem se omite perde até comiseração. "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer." Você tem plena razão, Nana.
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