quarta-feira, 17 de maio de 2017

Para onde vão no passo a passo do dia a dia? - Chico Araujo

*Chico Araujo
16/05/2017



A bem da verdade, a pergunta que intitula esse breve texto insistentemente me acompanha. Insurge-se e se impõe como pensamento dominador que não consigo afastar de pronto; ela somente vai se dissipando quando, por necessidade dos meus próprios passos, vou trilhando a minha sina.

Enquanto não, ela me faz olhar e olhar e olhar o ir e vir das pessoas nas ruas e avenidas e praças por onde vou também passando... Ela me vai martelando o juízo, insistente, sem-cerimônia: “Para onde vão essas pessoas em seus dias”?

Há inegável desencontro de caminhadas nos destinos vários de tanta gente transitando por espaços diversos a cada novo dia, a cada nascer de manhã nova. Intimamente, ruminando na aflição da não resposta, construo forte desejo de que todos consigam alcançar o lugar para onde se projetam. Inclusive eu.

Não duvido de que esse meu pensar sobre supostas e possíveis direções diversas devam-se apenas ao fato de que essas tantas pessoas as quais vejo passar umas pelas outras – algumas vezes seus corpos se esbarrando na velocidade de cada passar – se desencontram por não haver ponto de incidência a envolvê-las em um momento delas... entre si. Cada uma vai ao abraço do que lhe cabe abraçar. Inclusive eu.

Então, eis que me distancio delas, naturalmente, para deitar sobre o chão as marcas de meus próprios rastros. É nesse instante em que, aflito por não saber resposta para a pergunta insinuantemente constante, desejo, em oração singular, que cheguem em paz onde precisem chegar. Inclusive eu.

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Chico Araujo, poeta, ficcionista, compositor, intérprete, escreve aqui toda quarta-feira.

5 comentários:

  1. Bom, o texto. Nos faz relembrar de alguém que nos persegue todos os dias em seu silêncio sepulcral: a morte!
    Sim! Ela mesma, Chico Araújo. Todos os passos que damos na vida, seja eles felizes, vitoriosos ou não, nos conduzem, incólumes, a essa triste sina de ser mortal. Parabéns pelos seus escritos. Túlio Monteiro.

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  2. Não deixas de ter razão, caro Túlio Monteiro. O nosso caminhar cotidiano sempre nos parece tecido a partir de acordo que fazemos com nossos projetos - o que também não deixa de ser uma verdade.

    No entanto, os percalços, os imprevistos os quais nos obrigam a realinhar nossa trajetória, de certa maneira, fazem sucumbir o planejado. Metaforicamente, morremos a cada acontecimento organizado, mas não realizado, pois, pelo menos ali e naquele instante, ele deixa de ter sua existência realizada.

    Tudo isso enquanto "A indesejadas das gentes" não se aproxima de vez e nos abraça por completo.

    Agradeço seu comentário e sua apreciação aos meus escritos.

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  3. Leia:

    http://kelsenbravos.blogspot.com.br/2017/05/dialogando-com-chico-tulio-monteiro.html

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  4. É triste também ver, além da pressa, como as pessoas estão alheias à natureza enquanto caminham, não se sabe pra onde. De que adiantam os pássaros, as flores, o luar...

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    1. Prezado Marcos Silva, suas palavras reverberam bem uma situação muito comum em nosso cotidiano. A insistente pressa que nos conduz a chegar sempre a algum lugar nos aliena de quase muito tudo que existe ao nosso redor. De fato, ainda temos em nossa cidade locais onde os pássaros insistem em não emudecer; ainda vemos em muitos cantos jardins com belas flores. Mas a pressa... Essa, nem nos convida, nos impõe um não ver desconcertante. Há pouco tempo, numa noite em que retornava para casa por volta das 19h30m, enquanto descia a Av. Antônio Sales, eu a vi... esplendorosa e bela... quase cheia, mas já muito bela...

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