terça-feira, 13 de março de 2018

Estela - Chico Araujo*


Estela. Latinamente Stella. Estrela.
De outra língua originada, expressão significativa em linguagem modificada. Não na essência. Não na raiz.
Estela. Meu primeiro brilho. Meu primeiro sim. Luz intensa em minha existência.
O meu primeiro abraço, quando nesse mundo. O meu primeiro carinho, quando despertado. Minha primeira vitória. A gênese de minha História.
Noites insones nos cuidados preciosos – em precisão. Todo pequeno carece da grandeza materna para seus primeiros suspiros, seus primários olhares, seus iniciantes sorrisos, suas primitivas investigações guiadas pela inocência. Estela firme. Alimento para o corpo e para o espírito.
Estela iluminando os caminhos para os primeiros passos. A mão estendida à mãozinha aflita ansiosa pela segurança. A voz dócil chamativa orientando o caminho do caminhar – Aqui, aqui... Vem, vem, vem... – autonomia em fabricação não imaginada. A genitora não se imagina vendo partir a quem gerou em suas entranhas, em seu ventre (tanto tempo no tempo certo do tempo em gestação). A descendência – crê –, enquanto no apego possessivo, não se estabelece sem seu olhar orientador-protetor.
Mas então, na angústia de uma surpresa que de tão certa surpresa não seria, a descendência se mostra crescida e cheia de vontade de ter vontade própria e de fazer seu próprio caminho, trilhar por estradas avaliadas como as melhores, pisar os oportunos passos rumo aos desconhecidos lugares e momentos que lhe convierem. Estela em luta quanto à aceitação.
Mutável, analisa as circunstâncias e se adapta, se reinventa, mesmo sentindo o gosto de mudança inesperada e, ainda, não desejada. Estela renunciada. O olhar que olha não é para ver a si, porém para acautelar os filhos. Ela, forte e resoluta, prenunciando em quase adivinhação que em breve eles entenderão de seguir por conta própria o que a vida reserva para cada um.
Reestrutura-se, redimensiona-se. Agora, um pouco mais à distância, fica mais presente – espetacular movimento dialético: mais longe, mais perto –, com intensidade maior em seu brilho.
O novo momento torna-se exato, a partir da solidez dos ensinamentos feitos nos anos de presença amorosa, dos aconselhamentos reditos, repisados. Tudo emerge de forma surpreendente em ações que agora não são de Estela por ela mesma, mas de Estela renascida e inserida na vivência de seus descendentes, na reinserção de culturas dimensionadas em novos contextos. “O antes / O agora / O depois...”
O tempo no tempo de novos tempos...
Estela brilhando, perpetuando-se, tornando-se cada vez mais plena, cada vez mais ela...
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*Chico Araújo - professor, poeta, contista e compositor, publica toda quarta-feira no Evoé! O título "Estela" foi escrito entre 10/03/2018. Leia mais Chico Araújo em Vida, minha vida...

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