Gosto de ir a estádio de futebol. Gosto de vôlei, futebol de salão, basquete. Adoro jogos coletivos. Fui atleta amador com destacada trajetória no âmbito escolar e de federação; não de futebol, mas de handebol. Para quem não conhece, é uma espécie de futsal; mas jogado com as mãos. Melhor seria compará-lo a polo aquático, jogado em uma quadra cuja dimensão oficial é quarenta por vinte metros. Nos extremos opostos das menores bases do retângulo da quadra, encontram-se as metas do jogo.
Para atingir a meta que é o gol, jogam sete contra sete, mais os reservas também num total de sete, que substituem os titulares quantas vezes o técnico desejar. A bem da verdade, a única diferença entre reserva e titular é o fato de estar jogando ou não. A peleja dura dois tempos de trinta minutos e se for um jogo decisivo, para o qual não pode haver empate, há até duas prorrogações de dez minutos, divididos em dois tempos de cinco. A se permanecer o empate, a decisão consagrará o vencedor da disputa em tiros de sete metros, ou seja, pênaltis.
O Handebol reúne o de melhor em um esporte, alta competitividade, apuro tático por meio de extremo senso de equipe, refinado índice técnico expressado em lampejos individuais, dribles, defesas espetaculares e gols, muitos gols que fazem a torcida vibrar a cada lance do intenso jogo cujo tempo não para e só os atletas, verdadeiros titãs, conseguem manter!
Todos defendem e todos - até, raramente, o goleiro - atacam. Devido a intensidade e velocidade dos ataques e contra-ataques, ouve-se das arquibancadas muitos "Uuuuuuh!" A torcida se expressa em quase êxtase pelo quase gol, pela jogada de efeito com alto nível de produtividade, pela performance eficaz do goleiro. Se o "Uuuuuuh" é o preâmbulo do êxtase, imagina o gol.
Num contexto assim, não há lugar para individualismos fúteis. O craque se dilui, craque mesmo é o time, a equipe, que segue a estratégia, adota a tática, apura a técnica, lê a circunstância, pensa, avalia e, num átimo, executa a mudança necessária no decorrer do jogo com extrema sintonia. Se com as estratégias reformuladas, mesmo assim ficar difícil o embate, adota-se o plano original, decerto um lampejo individual (e não individualista) resolve.
No nosso time, quando ocorria um jogo mais difícil contra uma equipe que se emparelhava à nossa, acontecia de um ou outro atleta dar o brilho decisivo ao jogo, com muita raça e técnica. Não foi à toa que passamos quatro anos sem perder um jogo, e, por vezes, não havia jogo fácil. Somos amigos até hoje, todos nós, os adversários, inclusive.
Vejo pouco o pessoal. A tal roda-vida que leva a vida pra lá nos separa. Mas, porque se tem voz ativa, meus amigos inventaram um jogo, um racha, aos sábados, que depois virou treino, que depois virou um time "Os Dinossauro" (assim sem o s-plural mesmo, bem cearense), que está no campeonato, e os cinquentões, sessentinhas, estão fazendo bonito.
Eu, é claro, cardiodisplicente (não fosse o esporte da juventude... sei não, viu?) ainda não compareci nem para ver um treino, ou gritar um "uuuuuuh" (seria duplamente torturante - uma sensação assim de morrer de sede em frente ao mar). Estou seguindo recomendações médicas e já-já chego lá com a segurança devida para trocar uns passes e - quem sabe - até jogar.
Lembrei-me do "Uuuuuh" do handebol, ao conferir alguns jogos do Mundial de Futebol da Rússia. A seleção brasileira, talvez com o melhor elenco depois do de 1982, perdeu para um time que joga o pé-bola como se fora handebol, os contra-ataques belgas têm os mesmos evolução e desenho. Todos atacam e todos defendem, craques individuais por lá só os da necessidade da mídia.
De todas as seleções as da Croácia, Bélgica e França são as que têm o futebol mais evoluído, portanto, mais próximo do handebol, jogam bonito. Pelo senso de equipe, apuro técnico, tático e raça, a Croácia sobrassai às demais, tomara seja ela a campeã.
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*Kelsen Bravos - professor, escritor, compositor, editor do Evoé!
"Uhuuuuu", Kelsen Bravos. Mais uma saborosa crônica sua para esse Abecedário de Crônicas do Evoé!
ResponderExcluir"Uuuuuuh", Meu Caro Amigo Chico Araujo, nosso projeto de hebdomadárias crônicas está um sucesso e você e o Túlio Monteiro são especiais! Evoé!
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