quarta-feira, 4 de julho de 2018

Ubíquo e ubiquidade - Chico Araujo*

Ubíquo. Sou um sujeito ubíquo. Ou quase. Não, nunca tive pretensão de o ser; em verdade, nunca antes houvera passado em minha consciência qualquer ligeira aspiração em o ser. Mas o querido amigo KB, nessa última quinta-feira de junho, assim me reconheceu e, sinceramente, quem sou eu para admoestar tão precioso amigo.


Ele, direto e simples, disparou em rápida conversa por ambiente virtual:

- Toda vez que penso na letra U, me vem a tua imagem associada à palavra “ubiquidade”. Professor é o bicho mais ubíquo que existe.

E, na alegria daquele momento, completou sua fala:

- kkkkkkkkkkkkk.

KB ria da constatação que o levou à comparação; ria também de mim, de si mesmo, certamente por saber de tudo o que nos envolve no nosso dia a dia. Um riso amistoso, honesto, acolhedor, gracejador. E quem sou eu para exprobrar tão valioso amigo.

Aceito a alcunha, a antonomásia, o epíteto, que também se estende a ele e a quem mais vestir os atributos assumidos por nós dois. Ambos podemos, sim, por fato e por direito, estar em muitos lugares no perfeito instante em que escrevo essa crônica, não somente onde fisicamente nos localizamos; é bem certo, também, estarmos aí com você, leitor que agora nos lê, nesse preciso novo instante desse novo agora, por meio da crônica a nos interligar.

Sendo professores – KB e eu –, é-nos comum estabelecermos diálogos com muitos estudantes, os quais nos enriquecem com seus conhecimentos e enricam com tantos outros cujo encaminhamento nós fazemos. Profícuos diálogos com potencial reverberação noutras tantas imprevisíveis pessoas, noutros tantos imprevistos lugares.

Indubitável essa ubiquidade de um professor: como ser formador, tem essa faculdade de se difundir, de se expandir, quanto mais esteja agindo; assim, é-lhe possível ir além de onde possa estar, alongando-se e marcando presença em espaços e ambientes a ele impossíveis de determinar.

Não, não posso objurgar o fundamental amigo KB. Ele está certo. E mais certeiro ainda tornou-se quando ampliou seu raciocínio pontuando características as quais não incidem somente sobre mim, mas que se firmam nele também:

- Exatamente assim, a ubiquidade do professor, escritor e compositor.

KB e eu, além de professores, somos escritores e compositores, então, bem além das salas de aula nos fazemos presentes em tantos sítios, em tantos recintos como esse no qual se encontra agora você que me lê. Onde chegará essa minha crônica? Difícil especular, impossível dizer... Nossas composições musicais, quem, porventura, as está escutando nesse tempo em que essa crônica é tecida? Novamente, difícil especular, impossível dizer... Impossível também será negar que estaremos onde nossos escritos e nossas composições estiverem.

Não, definitivamente não posso reprochar o basilar e provocador amigo KB (a cada palavra aqui escrita mais me convenço de que fui provocado, sutilmente, por ele, a escrever essa escrita). Assumo, então, adicionando-o: somos, sim, ubíquos; a ubiquidade se revela em nós e por nós.


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*Chico Araujo - professor, poeta, contista e compositor, publica toda quarta-feira no Evoé! O título "Ubíquo e ubiquidade" compõe o Abecedário de Crônicas do Evoé e foi escrito entre 1° de junho de 2018. Leia mais Chico Araújo em Vida, minha vida...

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