segunda-feira, 11 de junho de 2018

R DE REVOLTA - Túlio Monteiro*

O presente texto é dedicado ao escriba Kelsen Bravos
 um dos poucos a ainda acreditar na arte da minha escrita.

Parto na certeza de que um novo dia está por vir. Algo assim com um quê de revolta inserida na verve máxima de um ser vil como as inimizades colhidas ao longo de anos de existência. Se o que sinto é de todo revoltoso, nada mais claro que a insensatez dos muitos tempos conjugados amiúde nos serões e peças que a vida nos prega sem ter um pingo – sequer – de pena dos que nos seguem feito cordeiros a caminho do sacrifício em altar-mor.

É de todo prazeroso sentir que o tempo nos carrega como crianças acariciadas pelas mãos leves de uma mãe caprichosa nos seus deveres maternos, nos seus deveres de quem procriou através do sexo muitas vezes não previsível. Muitas vezes feito sem o calibre necessário no tocante às responsabilidades inerentes aos que põem filhos no mundo como Deus criou batatas. Eu, por exemplo, desejo aos que ora me leem que nunca tenham cometido o absurdo de exibir ao Mundo rebentos que nunca vingarão no que se refere ao galgar das posições sociais necessárias ao crescimento nato dos seres humanos.

Se por muitas vezes meus textos são ácidos é porque assim o sou: taxativo e cruel aos meus próprios escritos, aos meus próprios alfarrábios! Para os que ainda me seguem nessa dura lida da escrita curta, escrita dura e constante, fica a dica de nunca se enviesarem para os lados da mesma. Pois ela desconstrói um ser se ele não estiver de todo pronto para o dedilhar firme de palavras e sílabas compostas ao bel prazer de dedos ágeis e mentes cristalinas. Mentes por vezes doentias no tocante ao servir sem serem servidas. De ser jantar em vez de jantar em mesa posta sobre a mesa. “Tão longe fui, tão longe vou...”, no dizer de um certo Raimundo Fagner.

E me REVOLTO, senhores e senhores! Uma revolta nada branda nem branca como deve ser afeita aos da escrita de gatilhos rápido e doloroso. De gatilho vil e constante na arte de matar com o tiro mais certeiro do mais certeiro dos assassinos. Se isso não for o mais incendiário dos Infernos de Dante, qual será a classificação do termo Inferno?!

E divago! E desconstruo o que escrevo! Para mais tarde refazer o que desfaço. Isso é um exercício de plena canalhice no referencial de um escritor que nunca se sente satisfeito com seus achados literários. O que de certa forma é bom, pois estar sempre se reformando se reformulando é de todo sadio e salutar. É provar a si mesmo e aos seus pares que uma certa revolta ainda pulsa em seus nervos e músculos cansados da longa lida que é viver. Simplesmente viver. E já que viver não é brincadeira, não, por que não o fazermos de modo brando, como fogo leve a nos aquecer em madrugadas frias e inconstantes?! Sim! O ideal é que toquemos nossas existências de maneira mansa, de maneira constante e segura, de maneira maneira. Se é que me faço compreender em minha escrita repleta de armadilhas léxicas.

É certo, ledores que a existência nos prega peças de arrepiar ao mais descrente dos viventes. Mas é exatamente nisso que se fixa a beleza de se estar vivo e atento aos descalabros do dia-a-dia de nós – sementes plantadas por um Deus castigador – como já vos disse em textos anteriores.

E me REVOLTO, senhoras e senhores! Uma revolta insana e cega ante retinas cansadas de uma vida jogada fora de maneira aturdida e cheia do nada charme de ser um perdedor nato, um chovedor de poesias processadas com o desprazer de helicópteros em revoada sobre a “praça que é do povo, como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade cria asas sem calor”, no dizer de um certo Castro Alves.

E firme fico de meus desprazeres de poeta sem pena afiada. Sem um rabisco sequer que seja ou que possa passar à posteridade de meus seguidores e gerações pósteras. Mas sigo infame, cego de horizontes, descamisado de prazeres carnais, absorto de ideias geniais. Pois sou um poeta Simbolista na maior acepção de um Mário da Silveira, assassinado em plena Praça do Ferreira aos 22 anos de idade. No bolso apenas um soneto perfeito, Simbólico, que lhe foi impresso postumamente em livro intitulado “Coroa de rosas e de espinhos”.

Pois sou desses, dessa estirpe mágica dos que nada vão deixar que se preze, que se corresponda à verdade e veracidade dos fatos que narrarão sobre minha pessoa no decorrer das décadas e séculos que estão por vir. Pois sou poeta e não aprendi a amar. Nunca soube o que era me fixar em um coração que fosse que valesse aa pena à minha alma pequena de poetinha insano e insatisfeito com planeta ao seu redor.

E me REVOLTO, senhoras e senhores. Uma revolta cruel e maltratante aos meus dedos cansados e calejados pelo teclado de um velho computador. De que me serve, pois, a arte do beletrismo, se ela não me traz o pão nosso de cada dia. O fardo positivo de um fabricar de crônicas que serão lidas e depois esquecidas pelos que ainda me seguem como animais em sacrifício. Sim! Julgo como animais em sacrifício os que caminham pelas letras que junto em forma de historietas para acalantar seres ávidos dos meus sofrimentos mais agudos. Dos meus sofrimentos mais íntimos. Sendo que nunca revelarei o que sinto de verdade, sob pena de me evidenciar enquanto esteta nada envaidecido, nada acometido pelos dissabores de escrever por escrever.

E se REVOLTEM, senhoras e senhores. Revoltem-se com suas existências vis como o vil metal que as comanda. Sejam verdadeiros. Sejam vocês mesmos e nunca temam o mais escuso dos ladrões de pensamento, íncubos a passear por seus sonhos mais secretos, seus desejos mais amplexos. Sintam-se e deixem-se sentir, saber e ser ouvidos. Uma vez que o Mundo não perdoa os que nasceram fadados ao fracasso, ao insucesso total e absoluto. Ao nada total!
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*Túlio Monteiro - é poeta, contista, crítico literário, publica todas as segundas aqui no Evoé! O texto "R de Revolta" integra o projeto Abecedário de Crônicas do Evoé! Leia também Literatura com Túlio Monteiro.

7 comentários:

  1. Como nesse texto "revoltante" o nobre escritor citou tantos poetas e gênios, tantas passagens e brevíssimas palavras antagônicas, me veio a mente um certo Raul Seixas, que na sua genialidade "revoltante" traçou até mesmo antes desse "imberbe " escritor traçar seus primeiros rabiscos, o diagnóstico perfeito para TÚLIO MONTEIRO: "ÉS UMA METAMORFOSE AMBULANTE" por que nada mais simplório de que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

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  2. Eis que mais uma vez Clauton Monteiro nos chega com mais uma grande análise de um texto meu. Dessa vez foi mais agudo que nu nca.isso muito me envaidesse. Túlio Monteiro.

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  3. Carlos Gildemar Pontes12 de junho de 2018 às 10:11

    Uma crônica é sempre um pedido de socorro. Olhem à sua volta, o mundo gira e o tempo não volta. Assim define o poeta e o cronista, que trabalham com a solidão e os instantes. Instantes que podem ser eternos ou "sisificamente" circulares. Suas crônicas têm a virtude desse brevísimos pedido de socorro. Mas os olhares não veem a mesma cena, por isso, esse socorro nunca chegará. O que fazer? Nada. Brincar com as palavras; Drummond lutou e viu que era umaluta vã. Brinquemos, pois, deixe que riam, que cantem, que falem...

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  4. Só um gigante do afeto -com legitimidade- sabe caminhar pelas corredeiras da vida. O que domina o catecismo poético/espiritual nos seus parágrafos imagina, o que reconhece e sabe vencer todas as lides desconfia, e quem sabe navegar nas calmarias ou em alto mar, percebe logo que está lendo Túlio Monteiro.

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  5. Uma catarse. A revolta de existir nas palavras sobressai à própria existência dum fingidor aflito com a realidade que o cerca.
    Um grande abraço,
    meu grande amigo.

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  6. Valeu, Marcelino. Túlio Monteiro.

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