sexta-feira, 8 de junho de 2018

Quê de Quereres - Kelsen Bravos*

Para meu tema em Q deste Abecedário de Crônicas do Evoé!, esperei a semana inteira um bom assunto. Conversei sobre minha expectativa com pessoas bem queridas. Sobejaram sugestões, cada uma melhor do que a outra. O excesso me bloqueou a imaginação, foi assim uma espécie de overdose cujo efeito travou os argumentos. Na realidade, o apagão resulta da minha intransigente recursa em excluir. Quero é todo mundo junto, ninguém pode ficar de fora - não por minha vontade. Ampla inclusão, talvez seja este o maior dos meus quereres.

Meus quereres são tantos. Vão dos simples aos sofisticados; mas integrados por comum imenso bem-querer a tudo e a todos. Um bem-querer gratuito e de tal modo inclusivo que, por vezes, me dá impressão de ser capaz de redimir malfazejos. Assim são meus tantos quereres.

Quero, por exemplo, quero-queros a povoar mangues e lagoas de minha cidade, a espalhar seus tetéus avisando que a vida precisa estar alerta. Quero o branco das garças em contraste com o saudável verde dos mananciais naturais. Quero a alegria de piscosos córregos cristalinos, vivificantes, protegidos por vegetação ciliar habitada - e no além-margem também - pela mais diversa fauna e flora. Quero as dunas livres ao vento a cumprir sua missão natural de filtrar as águas das chuvas e proteger as fontes e o continente e a nossa parte do oceano. Quero o mar de jangadeiros e surfistas e de golfinhos e tartarugas em comunhão. Quero galos, noites e quintais, sem que ninguém seja surpreendido pela força dos tempos trevosos, porque - em harmônica conexão com a natureza - aprendemos a ouvir, respeitar e dar boas providências aos diligentes avisos dos quero-queros.

Quero a natureza em harmonia com a cultura humana.  Quero viver numa urbe exemplo de civilização democrática e tecnológica, uma cidade inteligente, conectada, acessível, totalmente integrada ao universo e ao mesmo tempo provinciana e radicalmente bucólica, em que os habitantes têm participação assegurada em uma eficiente governança coletiva; os transportes e as fábricas não poluam; haja espaços de encontros e apreciação da arte, em que todos encontrem a alegria na alegria do outro, bastando para isso o simples fato de conviverem. 

E, por fim, nesse querer de bem conviver, quero somar o meu aos quereres de Dolores Duran e transformar em meu sempre o seu hoje para enfeitar a Noite do Meu Bem. Quero a paz de criança sorrindo. Quero plena a juventude aeda como a de Carolina Rebouças e Jadson Remido. Quero a aldeia em sinergia com a canção de Dalwton Moura, a poesia de Alan Mendonça e Fabiano Piúba, a maestria de Luciano Almeida Franco, a explosão transmigrante de Carlos Emílio Corrêa Lima, o erotismo de Ricardo Kelmer, o literário Vessillo Vesúvio Monte,  a serenidade de Chico Araujo, a paixão de Cleudene Aragão, a verve de Lira Neto, a sã intensidade de Túlio Monteiro, a luz de Gláucia Lima, a incontinenti expressão de Ricardo Guilherme e Sílvia Moura, a solidariedade da Andrea Vasconcelos e de Cláudio Ivo, o vital compromisso de Alexandre Lucas e de Andrea Oliveira. Quero, enfim, o boêmio enlace de ti e de mim - um cara tão sentimental.  Evoé!

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*Kelsen Bravos - professor, escritor, compositor, editor do Evoé!

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