segunda-feira, 28 de agosto de 2017

TÚLIO MONTEIRO - LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR – UMA ANÁLISE



1 – LUCÍOLA E A SUBJETIVIDADE ROMANTICA: INTRODUÇÃO AO TEMA

    A província do Rio de Janeiro, sede do Império de D. Pedro II, coroado em 1841, após a abdicação de D. Pedro I, era tida como a Corte, espaço urbano conhecido àquela época como o local escolhido pelo Rei para ser sua cidade-residência. É nesse Rio de Janeiro e nesse período da história brasileira que o enredo de Lucíola (1862) é ambientado.
Quarto romance de José de Alencar e o primeiro da trilogia que o escritor denominaria de “perfis de mulher”, complementada por Diva (1864), e Senhora (1875), Lucíola retrata a sociedade carioca de uma época burguesa e tradicional, centrada em uma minoria capitalista que frequentava o Teatro Lírico nos finais de semana, passeava à tarde pela Rua do Ouvidor e à noite pelo Passeio Público, então espaços nobres direcionados à fina casta carioca. Minoria esta que morava nos bairros de Botafogo e Flamengo, e gostava de protagonizar dramas amorosos que iam de simples flertes e namoros não concretizados a paixões avassaladoras.        
Mais que hoje, naquela sociedade patriarcal do século XIX os homens tinham o direito de levar uma vida sexual livre, o que permitia a todos, inclusive aos casados, vivenciarem experiências extraconjugais com o consentimento, ainda que passivo, de suas mulheres. Aliás, naqueles tempos as cortesãs tinham a mesma popularidade das atrizes e senhoras aristocratas, apesar de não possuírem o mesmo respeito.
    Profundo observador e crítico da sociedade de seu tempo, José de Alencar, explora em Lucíola a regra capitalista de que os mais ricos têm o direito de sobrepor-se aos menos favorecidos. Fato que pode ser comprovado no trecho em que Dr. Sá, amigo do personagem principal Paulo, exige da cortesã Lúcia (leia-se Lucíola) que imite as poses eróticas retratadas nos quadros de sua chácara, como forma de pagamento pelas regalias por ele oferecidas em um rico jantar:

- Pois, meus senhores, continuou Sá, mostrando-lhes estas pinturas, preparei-lhes uma agradável surpresa. É nada menos que o original delas; não o original frio e calmo, mas um verdadeiro modelo, vivendo, palpitando, sorrindo, esculpindo em carne todas as paixões que deviam ferver no coração daquelas mulheres.
- Onde está ele?
- Lúcia vai mostrar-nos.
- Tu não farás isso, Lúcia! Disse eu à meia voz.
Dobrando como uma palma flexível o seu talhe esbelto, atirou-me ao ouvido uma palavra, que vazou no meu cérebro e correu-me pela medula dos ossos, como gota de metal em fusão.
- É preciso pagar a conta da ceia!

Romance social-urbano, Lucíola expõe de maneira crua os padrões de conduta e os valores de uma sociedade brasileira em franca transformação, movida pelo dinheiro e, claro, preocupada com o status social que ele proporciona. Os preconceitos, valores morais e financeiros pertinentes àquele período são sintetizados no núcleo narrativo que envolve Paulo, um aspirante a aristocrata pernambucano, e Lucíola, uma cortesã de origem humilde que se torna abastada às custas de seu corpo, protagonistas principais do romance no qual vivem um grande amor.
    Lucíola escandalizou a sociedade carioca daquela metade de século XIX, pois seu enredo explicitava de maneira contundente algo sabido, tolerado, mas não aceito àquela época: a prostituição.
Apesar de suas características românticas, onde a personagem Lúcia tem um excelente caráter que é comprovado através da abnegação e estoicismo com que se sacrificou por sua família humilde, tornando-se por conta disso vítima das engrenagens capitalistas de sua época, não se pode enquadrar Lucíola como romance escrito à luz da tradicional estética da escola romântica. Suas descrições detalhadas e marcantes da vida de alcova de uma sedutora prostituta, emprestam tintas realistas ao tecido textual que José de Alencar habilmente entrelaça em seu enredo, deixando claro que sua intenção não é a de transformar Lúcia em uma heroína, mas, sim, de mostrar a realidade dura e desigual da sociedade imperial brasileira.
        
2 - ENREDO: JOSÉ DE ALENCAR E A SOCIEDADE DE SUA ÉPOCA

    Lucíola é um romance costurado a partir das cartas escritas pelo jovem e apaixonado Paulo, que são destinadas a uma misteriosa senhora chamada G.M. Em 1861, a senhora G.M. resolve reunir as missivas de Paulo e publicá-las em forma de um livro intitulado Lucíola, por acreditar que aquela história de amor merecia ser conhecida por todos. Ao tempo de Alencar, o moderníssimo artifício literário de escrever um livro dentro de outro livro era algo inovador. Essa técnica só seria literariamente definida um século depois da publicação de Lucíola, quando a crítica francesa Júlia Kristeva, em seu Ensaios de Semiologia, definiria esse processo de criação literária como intratextualidade, ou seja, um texto produzido dentro de outro texto, com o objetivo comum de ambos se completarem no resultado final de um romance. Ao utilizar-se da intratextualidade, o escritor propositadamente dá à sua personagem principal "autonomia" para escrever sua própria história, o que se caracteriza, segundo Kristeva, como um metaromance, ou romance dentro de outro romance, técnica que Graciliano Ramos magistralmente explorou mais de meio século depois de Lucíola em Caetés (1933) e São Bernardo (1934). Mas, voltemos ao enredo de Lucíola.
    Logo nos primeiros dias após ter chegado de Olinda para morar no Rio de Janeiro, em 1855, Paulo, 25 anos, foi convidado por seu amigo Dr. Sá para acompanhá-lo a uma festa religiosa do bairro da Glória. Lá, em meio à multidão de fiéis, sua atenção se volta para uma jovem e bela mulher. Ao ver Lúcia, Paulo dirige-se encantado ao amigo Sá, obtendo como resposta palavras que o fizeram descobrir quem na verdade era aquela fascinante moça:

- Quem é esta senhora? (...)
- Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?...(...)
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-se ter feito suspeitar a verdade.

    Apesar de sua rara beleza e rosto angelical, Lúcia era uma cortesã. Entretanto, esse fator não impediu Paulo de se apaixonar por ela. Sua natureza complexa e seu forte temperamento, contrastavam com suas boas atitudes. O pêndulo que oscila entre sua devassidão e interesse de Lúcia pelo dinheiro fácil e seu grande coração preocupado com o bem-estar de sua família e dos menos favorecidos, conduz Paulo a descobrir em Lúcia aspectos de bondade e pureza que o cativam.

Os encontros iniciais dos dois ora no teatro, ora casa de Lúcia são inicialmente puros, tornando-se ao longo do romance profundamente sensuais. Apesar de pagar inicialmente por seus serviços, Paulo não a deseja como uma mundana famosa por seus requintes de alcova. Sente que a ama, assim como pressente que ela também o deseja de forma diferente. A prova maior desse amor surge quando ela se afasta de tudo para dedicar-se exclusivamente a ele. No entanto, uma briga por ciúmes a faz retornar à sua antiga vida. O romance corre, desliza como deslizam todos os escritos de Alencar, até a constatação, por parte de Paulo e Lúcia, que seu amor é mais importante, o que os leva a decidir definitivamente por ficar juntos.
    Nesse ínterim, Lúcia conta ao seu amado a história de sua vida ao mesmo tempo que declara simbolicamente morta a cortesã que havia sido até ali. Ela, que na verdade se chamava Maria da Glória, por necessidade financeira havia se iniciado como prostituta a convite de um milionário chamado Cunha. Seu pai, após descobrir tudo a expulsa de casa, condenando-a a uma vida cortesã. Logo torna-se amante de um homem que a leva para uma longa temporada na Europa. Ao voltar, descobre que a mãe, o pai, uma tia e dois irmãos haviam morrido, só lhe sobrando uma pequena irmã chamada Ana, que ela toma como sua responsabilidade, internando a menina em bom colégio carioca.
    Essa confissão é pano de fundo para um pacto de amor eterno entre os dois. Lúcia afasta-se da arrogância da corte, dos seus amantes endinheirados e das orgias bacantes, indo morar com sua irmã no distante e bucólico bairro de Santa Teresa, numa singela casinha alugada. Esse insulamento, onde determinadas personagens distanciam-se da luxúria e dos pecados da cidade para encontrar o melhor de si mesmos em um ambiente natural e purificador, é uma das características mais marcantes da corrente romântica, metáfora para a expiação e busca pela redenção dos males cometidos.
    No ambiente tranquilo do afastado Santa Teresa, Paulo e Lúcia podiam viver um amor sincero e livre dos olhares reprovadores da urbe, o que lhes possibilitava passear de mãos dadas entre beijos trocados sob as copas de árvores verdejantes e leves brisas.
Novamente adotando Maria da Glória como seu verdadeiro nome, Lúcia fica grávida de Paulo, o complemento da felicidade que tantos buscavam. Entretanto, ao sofrer um aborto, Maria da Glória recusa-se a tomar um remédio que lhe ajudaria a expelir o feto de seu útero e salvar sua vida.
   
- Lançar!...Expelir meu filho de mim?
(...)
Iremos juntos! (...) Sua mãe lhe servirá de túmulo.

Essa atitude gera uma infecção que conduz Maria da Glória à morte. No seu leito de morte, ela confessa todo o seu amor por Paulo, pedindo ainda que o mesmo se case com sua irmã Ana, a quem ela deixara em testamento uma fortuna de cinquenta contos de réis. Paulo recusa-se, aceitando ser somente o "pai" de sua pequena cunhada.
O dia da morte de Maria da Glória transcorre lento e cheio de dores. Em seus últimos momentos, ela, enfim, confessa a Paulo a importância que ele tinha em sua vida:

- Nunca te disse que te amava, Paulo!
- Mas eu sabia, e era feliz!
- Tu me purificaste ungindo-me com teus lábios. Tu me santificaste com teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no seio do criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo, essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro.

    Lucíola se encerra com a última das cartas enviadas à misteriosa senhora G.M., onde Paulo, após seis anos passados desde a morte de Lúcia, Lucíola ou Maria da Glória, como cada um ledor aqui pretenda, ainda declara amá-la. No último envelope que destina à senhora G.M., Paulo encerra alguns fios do cabelo de sua amada, como forma de despertar na destinatária de suas missivas todo o sentimento e dor que ele sofre naqueles momentos. A primeira frase do último parágrafo do livro sintetiza toda a essência romântica de José de Alencar:
   
    Há nos cabelos da pessoa que se ama não sei que fluído misterioso. Que se comunica com o nosso espírito.

    Esse arremate, insere Lucíola na corrente romântica brasileira, não sem antes empresta-lhe alguns traços realistas-naturalistas. Traços estes que seriam muito bem utilizados por Adolfo Caminha ao escrever, 31 anos depois deste livro de Alencar, A Normalista, romance que traz no seu enredo realista outra Maria, desta vez Maria do Carmo, uma jovem menina que, depois de ficar grávida de seu padrinho João da Mata, é enviada pelo mesmo para a distante localidade da Aldeota, situada nos arrabaldes da provinciana Fortaleza do final do século XIX. Maria do Carmo, assim como Maria da Glória também perde seu filho, fato que se caracteriza como uma das muitas semelhanças existentes entre Lucíola e A Normalista. Ambos os romances criticam as sociedades nas quais seus enredos são ambientados - Rio de Janeiro e Fortaleza -, através das observações feitas por oniscientes personagens-narradoras. Porém, é conveniente saber que os dois romances em questão foram escritos à luz de duas correntes literárias absolutamente distintas: a Romântica e a Realista, sendo os seguidores desta última ferrenhos críticos da primeira.
Em Lucíola, pois, José de Alencar delineia a realidade nacional a partir do centro urbano do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, sociedade esta da qual ele era parte ativa. A partir das falas da personagem- narradora e de outras secundárias, os conflitos entre valores já legitimamente brasileiros e antigos valores importados, comprovam o entrechoque cultural de uma jovem sociedade, de um jovem País em busca de sua nacionalização. Entrechoque este tão pertinente aos dias de hoje, pasmemos.
Por fim, como pano de fundo para todas as diretrizes nacionalistas de José de Alencar, a trama de Lucíola remete-nos à constatação de uma narrativa circular no que diz respeito à vida de Lúcia/Maria da Glória. Nela, a pobre e angelical Maria da Glória transforma-se na impudica e abastada cortesã Lúcia, para depois ser reconduzida por seu grande amor às suas origens humildes, porém, honradas. O quadro a seguir oferece a você que ora e lê um erro cálculo matemático a despeito do que me referi nesse parágrafo:
          PASSADO                        PRESENTE
Maria da Glória
Lúcia
Lúcia
Maria da Glória
Pobre
Rica
renascida
redimida
Íntegra/honesta
Impudica/cortesã
Busca pela redenção
Íntegra/honesta





3 - ESTRUTURA DA NARRATIVA


    Os vinte e um capítulos de Lucíola correspondem às várias cartas enviadas pelo narrador-protagonista Paulo a uma senhora chamada G.M. que as reúne e publica em forma de livro. De estrutura simples, a narrativa linear deste romance de José de Alencar apresenta um espaço temporal rigorosamente delimitado ao tempo necessário para que dois núcleos sejam criados e expostos.
No primeiro núcleo, Paulo conta à senhora G.M. sua história de amor vivida ao lado de Lúcia. O segundo núcleo, muitas vezes não percebido pelos leitores menos atentos, centraliza-se na senhora G.M., personagem responsável pela organização das cartas escritas por Paulo, cartas essas que dão formato final a este romance de José de Alencar. Ao afastar-se completamente da trama, deixando que as personagens "pensem" e "hajam" por si próprias, Alencar lança mão de um ardil literário que faz dele provavelmente o primeiro escritor brasileiro a abandonar as enfadonhas narrativas baseadas em descrições de ambientes estáticos e objetos imobilizados, tão costumazes àquela época.
Provando ser um homem à frente do seu tempo, Alencar escreve um livro no qual o autor consegue introduzir o leitor num enredo em que as personagens se encontram interligadas por uma trama comum, onde as impressões da personagem-narradora passam a ser também as do leitor que participa ativamente do desenrolar da trama. Esse estilo de escrita, atualmente tão comum, não era inédito, mas era bastante recente ao tempo de Alencar. Poucos escritores naquela metade de século XIX ousavam escrever daquela forma, algo que vinha ganhando força a partir da França de Huysmans e Edouard Dujardin.
Em Lucíola, José de Alencar lança mão da técnica do discurso direto livre, onde o total “desaparecimento” do autor, que não deve desempenhar nenhum papel na trama, proporciona total liberdade de pensamentos e atitudes a Paulo e Lúcia, permitindo que as personagens adquiram, como já dissemos, "vida própria" no decorrer da narrativa, permitindo ao texto maior carga emocional e agilidade discursiva.
Finalmente, no que diz respeito à marcação do tempo histórico e aos espaços geográficos nos quais se insere a trama, as cartas de Paulo são escritas no ano de 1861, o que pode ser constatado logo na primeira página do romance. No que se refere ao tempo histórico, as cartas marcam o período que vai do dia 15 de agosto de 1855 (dia no qual acontece a Festa de Nossa Senhora da Glória), no qual Paulo conhece Lúcia, até meados de 1856, quando ela morre. Já o espaço geográfico do romance limita-se quase completamente à cidade do Rio de Janeiro, à exceção do passeio que Paulo e Lúcia fazem a São Domingos, em Icaraí, litoral do Rio de Janeiro.


4 - SOBRE AS PERSONAGENS PRINCIPAIS E SECUNDÁRIAS

- PAULO: Jovem bacharel que chega ao Rio de Janeiro para estabelecer-se. Conhece Lúcia e passa a se relacionar com ela.

- LÚCIA: Prostituta bonita e abastada aos 19 anos de idade. De origem pobre, foi obrigada a se prostituir para sobreviver, uma vez seus pais estavam doentes. Acabou sendo expulsa de casa pelo pai, restando-lhe a prostituição de luxo. Após conhecer Paulo, descobriu o amor e decidiu abandonar a vida de cortesã. Podemos e devemos considerá-la como a primeira personagem dotada de aprofundamento psicológico da literatura brasileira? A questão está levantada!

- Dr. SÁ: Amigo de infância de Paulo, encarregou-se de apresentá-lo à sociedade carioca. Fazia reuniões em sua casa e convidava prostitutas para participarem. Apresentou Paulo a Lúcia e, quando soube do envolvimento dos dois, aconselhou Paulo a abandoná-la. Sempre dizia a Paulo que ele era um homem mal visto por andar com Lúcia, preocupando-se em afastá-lo dela. Dr. Sá representa em Lucíola a hipocrisia da sociedade capitalista de sua época, aliás da sociedade capitalista brasileira atual, também, quiçá do futuro que nos aguarda.

- COUTO: Ex-amante de Lúcia. Responsável por ela ter se tornado uma prostituta. Foi ele quem ofereceu-lhe dinheiro em troca de sexo, quando a família da moça estava na miséria.

Fiquei só, uma menina de quatorze anos para cuidar de seis doentes graves, e achar recursos onde não havia... Passou um vizinho. Falei-lhe; ele me consolou e disse-me que o acompanhasse à sua casa... Esse homem era o Couto... Ele tirou do bolso algumas moedas de ouro, sobre as quais me precipitei, pedindo-lhe de joelhos que me as desse para salvar minha mãe, mas senti seus lábios que me tocavam...

Sr. ROCHINHA: Jovem de 17 anos, desregrado e entregue à vida boêmia. Apaixonado por Lúcia. Personagem criado por Alencar para claramente homenagear Lord Byron, mestre maior do Romantismo.

O Sr. Rochinha... trazia impressa na tez amarrotada, nas profundas olheiras e na aridez dos lábios, a velhice prematura. Libertino precoce, curvado pela consumação, tinha o orgulho do vício, que estampara as faces.... Se fosse pobre, o Sr. Rochinha teria fumaças de byroniano; mas ainda era rico de herança que esbanjava e, portanto, não passava de um moço gasto.

- CUNHA: Outro ex-amante de Lúcia, abandonado por ela quando soube que ele temia a esposa, temida por ele, em um casamento de arranjos.

- ANA: Irmã de Lúcia. Para que ela tivesse uma vida diferente da sua, Lúcia a colocou em um internato para estudar. A menina volta para casa no final do livro, após Lúcia abandonar a prostituição. Herdeira de uma fortuna de cinquenta contos de réis deixada por Lúcia (Maria da Glória), Ana casou-se com um homem de boa índole, tendo um destino diferente do da sua irmã e viveu feliz.

4 comentários:

  1. Paulo, Lúcia, Dr. Sá, Couto, Dr. Rochinha, Cunha e Ana, personagem que se misturam numa trama bem urdida pelo genial José de Alencar. Entretanto, nada disso seria possível e nem imaginável, se não fora, a misteriosa, senhora G.M. Afinal, para um final de século onde imperava o preconceito, a submissão da mulher ao marido, aos "casamentos arranjados" , o capitalismo a se instalar e o preconceito a reinar, JOSÉ DE ALENCAR (tinha que ser um cearense e seu perfil inovador) resolve pisar nos calos de uma sociedade hipócrita e mostrar com bastante competência, os limites existentes entre dignidade e necessidade...afinal "LÚCIA ,LUCIOLA OU MARIA DA GLÓRIA, enveredam por esse caminho para ingressar na profissão mais antiga da terra, a prostituição, com o único propósito de salvar sua familia das doenças e da miséria. No desenrolar da trama, fica evidente, como tudo na vida tem correção de rumo, e porque não dizer, os desígnios de Deus... Parabéns, estimado escritor... muito tem se aprendido como seu caminhar pela nossa história, e gostei imensamente das comparações entre Lúciola e a normalista...

    ResponderExcluir
  2. Obrigado mais uma vez por sábias palavras, mestre Clauton. Como costumo deixar aqui escrito, falta um texto seu para nos brindar com sua verve poética. Está a esperar por qual acontecimento? O texto sobre seu Cládio Gadelha da Rocha é de fina estampa. Por que não ele aqui?

    ResponderExcluir
  3. Olá, Túlio. Muitíssimo valiosa essa sua leitura de Lucíola.

    De fato, a personagem protagonista apresenta comportamento que se pode dizer, de certa maneira, ser ambíguo, por transitar por momentos de sentimentalismo comprovado e racionalismo insuspeito, o que nos permite, com base nessa ambiguidade, considerar a obra como oscilante entre o Romantismo e o Realismo (em meu modo de pensar, esses dois estilos sempre se fizeram presentes, de maneira acentuada ou atenuada, em vários escritos literários, desde sempre).

    Sempre penso em Lucíola - Lúcia / Maria da Glória - como personagem que se construiu para enfrentar a sociedade em que vivia, embora precisasse, em muitos momentos, curvar-se a ela, a fim de alcançar os seus objetivos.

    Para o início (permita-me essa temporalidade) da segunda metade do século XIX, Lucíola seria uma personagem surpreendente, exatamente por se caracterizar como uma "romântica insubmissa"; no entanto, trazendo-a para os dias de hoje e mesmo pondo-a em ambiente fora da ficção, em exercício comparativo: onde a Lúcia romântica? Onde, a insubmissa?

    Abraço.

    ResponderExcluir