sábado, 16 de agosto de 2014

Kiki, mon Amour - por Vessillo Monte

Kiki: a solidão povoada
De família pobre, Alice Prin divertia-se provocando os homens. Seu pai, um rico comerciante, a abandonara recém-nascida, e sua mãe, com dezoito anos, instalara-se em Paris, vinda da Borgonha.

A pequena Alice foi criada por sua avó, tendo uma infância mergulhada quase na indigência.  Aos doze anos, foi juntar-se à sua mãe na capital, para aprender as primeiras letras.

Na grande metrópole, descobre algo mais sedutor: a vida nos cafés no bairro de Montparnasse, onde se reunia a fauna da boemia artística. Um grupo de pintores oriundos, em sua grande maioria, do leste europeu e tão pobres quanto ela, despertaram em Alice a curiosidade pelo sexo. Ainda menor de idade, foi surpreendida pela mãe posando seminua, sendo expulsa de casa para sempre. Desaparecia Alice e nascia Kiki de Montparnasse. Sobrevivia servindo de modelo em troca de comida e bebida, cantando temas eróticos em cabaret de má fama. Longe de se sentir envergonhada, considerava-se a mais feliz das mulheres: "Estava tão feliz que a pobreza não me afetava. A palavra autopiedade era como hebraico para mim. Simplesmente não significava nada." - confessa em suas Memórias.

Desinibida sexualmente, rompia todas as convenções moralistas dos trovejantes anos 1920.
 Man Ray com sua musa Kiki de Montparnasse
Foi amiga e amante de grandes artistas, sendo Man Ray o mais importante. Kiki conheceu o mestre surrealista da fotografia durante uma briga de bar. Algumas das melhores obras do americano, são fotos de Kiki desnuda. Sua personalidade provocativa, sua atitude liberal com relação ao corpo inspiraram o tímido Ray, que a plasmou como o ideal de liberdade dos artistas de Montparnasse.

Quando se separaram, oito anos depois, Kiki já era toda uma instituição entre os vanguardistas de Paris. Vivia em meio a intelectuais feito Breton, Gertrude Stein e Picasso. Para Ernest Hemingway, Kiki "era o mais próximo que uma pessoa podia estar de uma rainha..., por suposto, isso é muito diferente de se ser uma dama". A ocupação nazista de Paris pôs fim a seu reinado. A maioria dos artistas fugiu. Ela teve de sobreviver a duras penas, cantando em troca de algumas moedas. Isso não a incomodava: "a única coisa de que necessito é m pouco de pão e uma garrafa de vinho... e sempre encontrarei quem me ofereça isso". Mas já ninguém queria sua companhia. Viciada em álcool e barbitúricos, encontrava-se em franca decadência. Aos cinquenta e dois anos, foi fulminada por um infarto em plena rua defronte seu apartamento, localizado no coração de Montparnasse. Kiki, mon Amour, por mais que solitária, você morreu em casa. (Vessillo Monte)

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