sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Por uma Fortaleza de leitores

Fabiano dos Santos 
A leitura é um ato criativo de construção de sentidos que conjuga individualidade e pluralidade. Mas ler é também uma prática cultural e social de atribuição de sentidos e significados. Nesta perspectiva, podemos afirmar que ler não é um consumo passivo, senão uma forma de participação e de construção de sua própria história e de sua sociedade. Aliás, Paulo Freire já nos ensinou há muito tempo que aprendemos a ler para podermos escrever nossa própria história. Daí que os atos de ler e escrever são práticas de liberdade. Este é o sentido da prática de ler e de reler o mundo. Sendo assim, a leitura e a escrita são antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive e uma possibilidade de lançarmos palavras sobre este mundo, para que possamos falar, interpretar e escrever sobre ele. Ler e escrever nesta perspectiva são também libertar-se. 
Por que estou começando assim esta nossa conversa? (Fonte: Jornal O Povo)
Para que fique claro desde o início que o ato de ler não se resume somente a leitura do objeto livro e tampouco ao número de livros que lemos a cada mês ou a cada ano. A experiência da leitura é muito mais do que ler livros. A experiência da leitura é uma viagem aberta de transformação e podemos ler desde uma obra literária, mas também um filme, uma peça teatral, uma dança, uma pintura, uma fotografia, uma história oral narrada por nossa avó, um gesto no meio da rua, um olhar que nos mira ou que nos escapa. Não esqueçamos que as ciganas lêem nossas mãos e que os amantes são capazes de lerem suas almas entre si. Neste sentido, mais relevante do que termos a informação de quantos livros lemos é sabermos o que e como estamos lendo. Para além do consumo de livros, medir as nossas capacidades leitoras em seu âmbito social, cultural e educativo na perspectiva de integração da leitura com a vida em sociedade, ao desenvolvimento da cidadania, a geração de projetos de vida e até mesmo ao aprofundamento da interação familiar.

RelaçõesPara avançarmos nessa perspectiva, precisamos estabelecer relações entre os indicadores de leitura e outros indicadores sociais. Podemos estabelecer estas relações, por exemplo, como IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que mede o progresso do desenvolvimento nas dimensões de renda, educação e saúde; com o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) que é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar em compreensão de Leitura, Matemática e Ciências ou com o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) que mede a qualidade de cada escola e rede de ensino do Brasil, com base na taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e desempenho dos alunos nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. 

Claro que pesquisas quantitativas como esta realizada pelo Ibope Media sobre o hábito de leitura são importantes e relevantes não apenas para medir tendências de consumo ou de mercado, mas também para orientar as políticas públicas de educação e cultura voltadas para o acesso a todos os suportes de leitura (impressos, eletrônicos, digitais) e para a formação de leitores. Além disso, são instrumentos necessários para estudos comparativos e análises sobre distintas realidades. Destacaria nessa linha a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro que tem como objetivo medir o comportamento leitor dos brasileiros. Esta pesquisa já se encontra em sua terceira edição (2011-2012) e adota a metodologia comum de comportamento leitor do Centro para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc–Unesco), a mesma adotada em países como México, Colômbia, Chile e Argentina com algumas variações feitas por cada país.
No entanto, pesquisa de comportamento leitor ou sobre números de livros lidos ao mês, vista de maneira isolada, pode significar muito pouco em termos de parâmetros para a qualificação das políticas públicas de educação e cultura. Necessitamos ampliar nossas abordagens e metodologias sobre os indicadores de leitura (comportamento leitor, capacidade e compreensão leitora) e sua relação com indicadores de desenvolvimento, buscando medir, por exemplo, se o Estado está promovendo, protegendo e garantindo o gozo efetivo do direito à leitura, que é derivado da educação e da cultura. Além disso, de como o Estado está garantindo este direito e quais são os resultados de suas políticas para melhorar os indicadores de leitura e desenvolvimento, bem como a qualidade da educação.

Fabiano dos Santos Piúba é diretor de Leitura, Escrita e Bibliotecas do Centro para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc-Unesco). É doutor em Educação, mestre em História e foi diretor de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura (Minc), de 2008 a 2011.

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