domingo, 30 de setembro de 2012

Novela: Eleições na Mitomanolândia... 3

... e continua a novela Eleições na Mitomanolândia...

... E aquele candidato logilíneo que se coloca como arauto da democracia direta, que fala com o jeitão do Visconde de Sabugosa e tem um monte de Emília como cabo eleitoral, nem se assustou com o coro de "abestado, abestado, abestado", destinado ao candidato para chamar de seu...

Experiente, passado na casca do alho, o vetusto jovem candidato não se assustou porque, quando uma mensagem é repetida intermitentemente, o seu sentido se esvazia para quem a ouve.

De mais a mais o foco dele é outro. Pleiteia uma nova sociedade, questiona o atual sistema, combate o capitalismo, o neoliberalismo, qualquer forma de ismo que não o da participação direta da sociedade civil organizada.

Na sua lógica, até o atual processo eleitoral é questionável; mas se candidata por ele, obviamente torcendo para não ser eleito (merece por isso bem mais pontos percentuais nas intenções de votos para prefeito da Mitomanolândia).

Não quer ser eleito, porque se sabe bom só no discurso, que aparece bem articulado, mas sem nenhum senso prático.

Quanto mais teoriza, quanto mais tergiversa, mais cresce em importância a seus eleitores, tal qual o numeral um em relação à quantidade de zeros a segui-lo, para quem, aliás, as ideias do candidato são a luz no fim do túnel, um bálsamo, uma panaceia para o coração (eu disse coração, viu?) político desesperançado de seus eleitores.

Promete a utopia, e se candidata em um processo eleitoral que condena. E deve torcer muito para não ganhar, pois se eleito, não governa, porque não terá maioria na câmara de vereadores. Engana seus seguidores fazendo-os acreditar num mundo melhor, negando e prometendo (negando e prometendo, repito) o impossível.

Na prática isso que ele faz não tem outro conceito senão aquele definido pela associação de propostas e declarações que não podem ser postas em prática, feitas apenas com intuito de obter benefício eleitoreiro ou de popularidade para quem as promete. E esse conceito não é outro, senão demagogia.

Mas se redimirá se assumir que sua candidatura tem apenas o caráter mobilizador e educativo sem intenção de assumir a gestão, que quer apenas eleger de novo vereador o guru demagogo de seu partido. Mas aí não estaríamos falando mais das Eleições na Mitomanolândia.

...

Ouvindo ainda o "abestado, abestado, abestado" proferido em coro ao candidato para chamar de seu pelos fregueses do botequim do Zé, onde há os melhores queijos e paçoca, o logilíneo candidato súbito estancou o passo e tomou outro rumo, pois viu que ali também chegavam , abraçados, mais dois candidatos para quem perdia em demagogia...  um servia de cicerone, pois o outro não conhecia a cidade, devido a tanto tempo que dela ficara distante...

Aguarde os próximos capitulos...

[Dedico este capítulo ao poeta romano Carlo Alberto Salustri] 

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