quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

DE VOLTA - Chico Araujo*

Quase nunca é fácil a produção de um texto escrito como se pode pensar a partir dele pronto. Finalizado, ele é lido e da leitura se pode destacar: gostei / não gostei; é bom / não bom; é inteligente / não é inteligente; serve / não serve, ou tantas outras observações que se podem fazer a partir de interpretações dos leitores.

Mas quase nunca é fácil.

Em alguns momentos, as palavras chegam com tanta rapidez, em uma dinâmica tão inesperada que, assim como chegam, partem, deixando apenas uma sensação de pergunta sem resposta: O que era mesmo?

Noutros, elas parecem exercer o direito de brincar de esconder, pois as procuramos, desejando precisão, contudo elas não aparecem, nos deixando supostamente nocauteados, sem conseguirmos nos expressar.

Não, nunca é fácil.

Como fazer, por exemplo, para prender sua atenção até o final da leitura? Esse é o objetivo maior de todo e qualquer autor de um texto escrito: conseguir do leitor a atenção plena em concentração máxima. Mas como conseguir tal façanha?

As palavras, certas nos lugares exatos. Não é mesmo fácil.

Às vezes, até uma interrupção no processo de escrita é bem-vindo.

Interromper para refletir. Interromper para reescrever. Interromper para manter certo distanciamento do próprio texto em construção para poder ponderar sobre como anda essa construção. Mesmo assim, aquele que escreve somente saberá se o escrito foi aceito ou é motivo de crítica se houver tomada de posição do leitor, uma tomada de posição quanto ao texto lido a qual chegue ao autor.

E se esse retorno não acontecer? Se o leitor não conceder ao autor qualquer das suas impressões tidas a partir do texto conhecido por meio da leitura?

Em situação assim, cabe ao autor perguntar-se: Para que serviu o que escrevi?

É possível que alcance alguma conclusão com base em seu próprio questionamento.

Independe disso, porém, sua próxima escrita.

Um autor / escritor sabe que, mesmo sem certezas, mesmo que se afaste um pouco do ato da escrita, “dando um tempo” para ela, a ela retornará em algum instante.

Ela é parte de sua vida.

Às vezes, ela “é” sua vida.

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*Chico Araujo (Sérgio Araujo) - publica toda quarta-feira no Evoé! O título "De volta" foi escrito entre os dias 25 e 26 de janeiro de 2017. Leia mais Chico Araujo no blog Vida, minha vida...

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