sábado, 21 de julho de 2018

W de "dabliú da cartilha da Juju" e wetland - Kelsen Bravos*


Devo ao cancioneiro nacional a mais importante referência à letra W, cuja pertinência no vocábulo português é pífio. Pois foram Noel Rosa - um dos maiores inventores do brasilês -  e Lamartine Babo quem me apresentaram o tal dabliú com a música, lançada em 1931, A, É, I, Ó, U... cujo refrão diz: a, é, i, ó, u, dabliú, dabliú, na cartilha da Juju...

É de Noel também o samba Não tem tradução que, ao lado da Canção pra inglês ver, de Lamartine, faz trincheira em defesa da língua brasileira. Rosa, em 1933, critica a invasão de palavras estrangeiras por meio do cinema falado: O cinema falado é o grande culpado da transformação (...)/ A gíria que o nosso morro criou / a cidade logo aceitou e usou (...) / Tudo aquilo que o malandro pronuncia / Com voz macia é brasileiro,/ já passou de português / Não tem tradução...  

Dois anos antes, 1931, Babo, com a fina flor do deboche do teatro de revista, se apropria não só da fonética da língua inglesa, mas também do estilo musical, foxtrot para ironizar o estrangeirismo na língua nacional: Ai loviu forguétiscleine meini itapirú / forguetifaive anda u dai xeu no bonde Silva Manuel / ai loviu / tchu revi istiven via catchumbai / independence la do Paraguai / estudibeiquer Jaceguai... e por aí vaí...

 Sou a favor de anexação de novas palavras sim. A língua portuguesa tem essa capacidade de se apropriar de palavras e impor sua lógica desinencial e sintática. O português brasileiro então, esse é que aglutina mesmo. O problema é a forma quase "etnosuicida" dessa anexação cada vez mais menos racional.

Oficialmente temos, fora os nomes próprios e seu derivados, aportuguesada uma palavra iniciada por dabliú: uísque. Foi aportuguesada, abrasileirada e viciou muitas famílias. Recentemente aprendi uma palavra iniciada por essa letra por que nutro simpatia gratuita (talvez seja a memória afetiva da canção de Noel e Lamartine): Wetland. Taí uma palavra muito adequada de cair no gosto e no uso dos brasileiros e brasileiras.

Quem me apresentou o termo e o conceito foi meu amado irmão Kelson, para mim, é o cara em tecnologia do meio ambiente. Ele me explicou que wetland é um ecossistema receptor de águas naturais e de águas oriundas do uso humano. Seria assim uma espécie de "mangue" artifical. A tecnologia adotada reproduz os processos naturais e consegue limpar as águas poluídas e devolvê-las até para o consumo humanos. Aqui no Ceará não tem autorização governamental - e no Brasil é rara a adoção de wetlands. Meu irmão tem-se dedicado em estudá-la, para se apropriar da melhor forma de aplicação. Sei que pode ser adotada em lares, condomínios, indústrias com resultados eficazes e harmônicos com a natureza, embeleza a paisagem, previne a proliferação de mosquito e preserva e limpa as águas. Bem melhor do que o uísque seríamos ter no gosto e no amplo uso as uetilendes, né não? Sonhemos e acordemos para tornar realidade esse sonho bom. Evoé! 

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*Kelsen Bravos
- professor, escritor, compositor, editor do Evoé!

Um comentário:

  1. Bela aula e bela crônica. Excelente texto de tiro curto. Parabéns por acertar a mão mais uma vez. (TÚLIO MONTEIRO).

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