sexta-feira, 20 de abril de 2018

Jota de jamais, juízo, jiló, jambo, jandaíra, jeito e jazer - Kelsen Bravos*

Jamais começaria uma crônica sobre assunto qualquer a me dizer da falta de assunto para começar a dita crônica. Nunca antes na história deste latifúndio infértil de juízo, pensei aconteceria tamanha ausência. Logo no jota do Abecedário de Crônicas do Evoé! Jamais! Até porque, claro!, tenho umas tantas prontas, ali no forno para não perder a quentura. O prazer, entretanto, de criar assim na hora H - e não de H - dá um num sei quê de emoção, com certeza, por recordar momentos tantos!

Esses momentos tantos, a maioria tem importância mesmo só para mim, pois para o mundo, decerto, não passa de somenos; mas é justamente pelo desafio de fazer de um caco de lembrança - um nadinha de nada, um quase coisa-nenhuma - ter importância para alguém. Pelo menos assim, ocupando-lhe o tempo com uma leitura só notada por cumprida, bem depois de ter sido lida, ou - para a glória total do cronista - jamais tida por finda, assim feito primeiro beijo numa história de amor. Lembras?!

Em história de amor, ninguém deve se meter. (Falei história e não briga). No começo, porque acaba atrapalhando o gosto do primeiro beijo. No fim, porque... - ora, se tem fim, deixou de ser amor. E se deixou de ser amor, há muito a história já amarga que nem jiló. Antes de se render a esse amaro gosto, com certeza, passou pelo acidulado e doce sabor da paixão.

Tem sabor de tragédia o amor rendido pela paixão. E quando a razão já foi para cucuia, o ser é só sinestesia. Ninguém é só sinestesia o tempo todo. Inda mais assim: duas sinestesias em sintonizada sinestesia entre si, todo dia o dia todo, em todo o instante do dia. Tanta mistura pode descambar para exagerada doçura e virar diabetes, então amarga que nem jiló! De fato, testemunha-se um ser anulando o outro.

Todavia, consideremos que sim: duas sinestesias em sintonizada sinestesia ad aeternum entre si. Viver para quê, então? Atenção! Se você acha ter seu grande amor, com quem tem um caso ad aeternum, cuidado! Pode ser só de você a sensação, pode ser tão intensa e forte quanto a definitiva morte... do outro ou da outra. Melhor ir aos pouquinhos, pois é sempre mais interessante a pequena em detrimento da grande e inexorável morte.  Há mais felicidade em la petite mort.

Falo assim, porque conheço quem muito e amiúde tem encontrado quente felicidade em pele cor de jambo com mel jandaíra nos lábios a suspirar, em matizes de Matisse, integral frenesi de atabaque, com esto de preamar e molhado sabor de quero mais até o arrebatamento, estendido pelo aconchego de abraço em chuvinha fininha, ao som de cachoeiras e embalo de rede de dormir. Assim, só assim, desse breve jeito jazer... Evoé!  
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*Kelsen Bravos - escritor, professor, editor do Evoé!

2 comentários:

  1. Bem! Parece que dessa vez o nobre escritor acertou o ponto da fervura. Excelente crônica, Kelsen e Bravos até no nome. Que continuemos assim até o final deste abecedário. Que venha a letra K. Túlio Monteiro.

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