segunda-feira, 26 de março de 2018

GRANDE amor - *Túlio Monteiro



...É desconcertante rever um grande amor...

Tom Jobim


Depois de vinte e cinco anos de total separação – um quarto de século - eis que por conta dessa tal Internet redescobri alguém que jurava nunca mais veria ou ouviria falar. Foi um GRANDE amor vivido intensamente ainda em minha fase de menino virando homem feito e já com uma tonelada de responsabilidades sobre as costas, qual saco de matalotagem carregado sobre elas de maneira peculiar e cansativa.
Mas, hoje, caros ledores, resolvi abrir o coração e falar de como tudo aconteceu. Para isso, não se surpreenda se utilizar-me de subliminares para proteger aquele nome em um codinome beija-flor.
Conheci-a e a sua família quando ela ainda tinha tenros dez anos de idade e eu pouco mais de dezessete. Não! Não se trata de mais um caso de pedofilia explícita e sim de um amor pela irmã caçula que nunca tive. Sua meiguice me cativou desde o primeiro conhecer, tendo isso ocorrido em uma daquelas colônias de férias dos idos anos 1980, onde passávamos dez, às vezes quinze dias em total harmonia com a natureza das praias do nosso imenso Ceará.
Tornamo-nos grandes amigos, apesar da diferença de idade uma vez que seu quociente de inteligência atingia facilmente o meu no quesito compreensão de Mundo.
O embricamento de gostos librianos foi imediato. Ela adorava o mar, o fogo e o ar. E eu retirava daquela pequena, forças que nem mesmo ela sabe hoje. De família tradicional, sua mãe me confiou toda a guarda dela quando estávamos juntos. E eu fiz jus à semelhante confiança até os dias em que nos desencontramos pela primeira vez. As colônias de férias anuais cessaram, nossos caminhos tomaram rumos diferentes como bem deveria ser aos com diferença de idade tão exacerbada. Em suma, perdi de vista minha irmãzinha por longos anos, arrisco eu uma década inteira.

PIRATA BAR – A SEGUNDA-FEIRA MAIS ALEGRE DO PLANETA

O tempo passou lento como costuma ser. E eu continuei minha vida de trabalho, estudo e leituras fartas. Dela já não havia mais notícias em uma época em que telefones eram postos a funcionar à base de fichas confeccionadas em ferro e a informática nos moldes de hoje nem sequer era sonhada… idealizada.
Também eram poucas as opções noturnas de diversão na nossa Fortaleza banhada pelo Sol. Essa falha de divertimentos foi detectada pelo saudoso Júlio Trindade, um português esperto que por aqui aportou no início dos anos 1990, época em que Beto Barbosa e sua inconfundível Lambada dominavam os palcos brasileiros. Não tinha jeito! Quem quisesse estar de bem com as diversões da cidade, tinha que passar pelo menos uma vez por mês uma noitada de segunda-feira no ”Pirata Bar” para marcar presença e ver amigos de colégio, faculdade e trabalho. Quem tem mais de 40 que não negue suas origens. Risos.
Pois bem, lá estava eu dançando sozinho (um arremedo) ao som do lambadeiro presente – não era o Beto Barbosa – quando olhei para o corpo de baile que assessorava com passos precisos do ritmo (trauma de nunca ter aprendido Lambada), quando fixei melhor o olhar. Adivinhem quem encontrei pela segunda vez? Sim! Ela estava a rodopiar pelo ar leve como bailarina ao som de Belém do Pará. Parei! Sim! Reencontrara minha menina agora em corpo e alma de mulher. Ambiente lotado e eu precisando falar com ela e só sosseguei quando consegui. Peguei telefone, o endereço ainda era o mesmo e ela estava sozinha, sem amor. Marcamos um encontro outro dia, já que naquela noite não daria.
Em detalhes não entro, mas essa segunda onda me pegou na proa e a paixão não pode deixar de se fazer presente. Foram dois anos e quatro meses exatos de uma relação intensa, cheia de amor, atração, conhecimento mútuo e reciprocidade. Eu e ela nos ensinando coisas do dia a dia, trocando carinhos e por vezes farpas, onde tudo corria bem até que forças externas às nossas nos fizeram separar pela segunda vez e de maneira atormentada. Terei perdido naquele 1992 o amor da minha vida? Nunca saberei!

A TERCEIRA ONDA

VINTE E CINCO ANOS se passaram até que nos reencontrássemos. Desta vez eu homem casado e ela uma doce dona de casa – também muito bem casada – morando em outro estado e lutando bravamente em um emprego público para auxiliar e organizar escolas carentes do lugar. GRANDE orgulho em saber que aquele Q.I. está sendo usado de maneira farta e produtiva.
Confesso uma lágrima agora. Mas prosseguindo, está sendo muito bom saber dela – que sempre me fez tão bem – estar feliz no que faz e no que se tornou. Nosso amor de jovens foi salutar e de crescimento mútuo. Aprendemos muito juntos, nos divertimos, nos amamos, deitamos e rolamos.
Nos confessamos ainda atraídos um pelo outro, mas de forma grande e eloquente. Sabemos que não podemos mais ficar juntos nessa vida. Em outra, quem sabe, possamos corrigir os erros e amorosamente termos nossos filhos, herdeiros maiores de nossos sangues librianos. Pois aos Céus tudo é permitido.
Aos leitores aviso: esse texto é íntegro, amoroso, saudosista e confessional. Já que nesse Mundo atual tão cheio de brutalidades ainda existem poetas. Eu sou um deles e me orgulho disso!
UM BEIJO, D! ESSA FOI PARA VOCÊ!

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*Túlio Monteiro - escritor, crítico literário, publica todas as segundas aqui no Evoé! O texto "GRANDE" foi escrito no dia 25.03.2018. Leia também Literatura com Túlio Monteiro.


10 comentários:

  1. O amor e seus encontros e desencontros. A ternura de um reencontro mesmo que virtual, despertou no nosso nobre escritor uma face, (nao confunfir com rede social) a da resignação. É assim mesmo, a vida prega essas peças e ainda penso em acreditar piamente em destino, mas meu lado contestador não deixa. Enfim, como já foi cantada em versos e rimas, recordar é viver. Lidar com a resignação não é fácil quando se faz um relato tão pessoal, aí como consolo, que tal levantar a tese , de outras vidas....

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  2. O AMOR libriano: balança, cai, pondera...levanta, avança e nunca cansa de tentar...te ENTENDER.No riso e no risco. Mais uma bela segunda feira, amigo.Abraço. MMB

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  3. T��

    GRANDE é pouco!

    Foi tudo que eu quis viver e amar!

    Entre as memórias não esquecidas,  me lembro de ir ao seu trabalho, numa agência  bancária, eu tinha 15 anos e fugia de casa carregando uma mochila branca e vermelha  nas costas. E quando você me perguntou se eu estava bem, cai no choro. Retirastes o crachá e me levaste a Praça do Ferreira pra conversar. Lá compraste pipoca, picolé, algodão doce. Me ouviste e enxugaste minhas lágrimas tal irmão mais velho. Depois me levou pra casa juntamente com tua mãe.

    Em tempos de telegrama não houve um dia 10 e 15 que não nos parabenizassemos até nos afastarmos. E confesso, que nesses 25 anos, sempre emanei a você as melhores vibrações. 

    Sim foste o GRANDE amor daquela menina aos 10 anos, sardenta e serelepe que fazia estrela na areia e catava conchinha na praia.

    Era sempre uma euforia saber que as famílias iam se encontrar nas temporadas e ter sua amizade era uma alegria. 

    Lembro de quando percebi que algo mudava em mim. Quando o vi beijar uma conhecida nossa, seria ciúmes do Beija Flor? Como decifrar isso aos 13 anos? Por uma reserva natural isso nunca foi manifestado por mim, seguimos amigos e nos reviamos em algumas festas de aniversário dos meus que você comparecia com namoradas. O tempo passou...

    Ao reencontra-lo aos 18 anos já era um GRANDE amor, modificado pela ação do tempo, de descoberta, de sensações, de experiências e dos sentimentos. Do GRANDE tempo compartilhado nós sabemos o quanto teve e tem significado. Nem 25 anos de silêncio o calou.

    GRANDE foi a dor da separação que entendemos ser necessária e acertada.

    GRANDE foi minha alegria em acompanhar a carreira do escritor, alguns textos na internet, prêmios, obras. Que feito! 


    GRANDE foi a emoção em falarmos, GRANDE foi o choro repressado, GRANDE foi a possibilidade em reatar a amizade e ressignificar o amor. És um querido pra mim. Um GRANDE amigo. 

    Desejo a você sempre muito amor, paz, saúde e alegrias. GRANDE é a honra de fazer parte do abecedário. Sucesso!

    GRANDE é a saudade. 

    Um caloroso abraço da menina, da adolescente, da jovem e da mulher D❤.

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    1. Ficou linda tua resposta. Agora sou eu que me emociono. Bom saber que essa "garrafa" lançada no mar da Internet chegou ao seu destino. Estava na garganta e n a ponta dos dedos escrever sobre isso. Um beijo!Túlio Monteiro.

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    2. Olha só, o meu Túlio Monteiro, amigo querido, amadíssimo que é todo alma, pois, a alma não tem tempo; a alma é o tempo eterno e cheio de surpresas. Apaixonei-me por esta sua confissão!

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    3. Obrigado Lucineide. Comentário tão cheio de amor só poderia vir de poetas como você, minha amiga. Sinto-me honrado. Túlio Monteiro.

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  4. Senti na pele
    Não duvidei
    Somos sensíveis. Somos da geração anos 80. Temos tantas histórias pra contar.. Tenho tanto saudosismo dessa época. Queria que o calendário voltasse há,pelo menos,27 anos...
    Faria tudo diferente e melhor..Profª. Meire Viana.

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  5. Obrigado, Meire, moça beletristas, pelo comentário que faz crescer o texto ora analisado. Túlio Monteiro.

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