terça-feira, 4 de julho de 2017

Crítica: Um olhar sobre a crônica de Túlio Monteiro "A água, o vale e a montanha", por Suely Andrade

Uma crônica traçada da altura da habilidade de Túlio Monteiro com o léxico e a semântica, encabeçada na epígrafe pelas firmes palavras do mestre Moreira Campos (de quem o cronista teve a graça de ser aluno). Essa menção faz-se mais do que mera intertextualidade, pela impressão que facilmente dá ao leitor de antecipação do arremate das ideias da crônica, que trata da profusão da vida em todas as suas instâncias, assim como da força que a move. Longe da pretensão de uma análise engessada desse texto do autor Túlio Monteiro, coloco aqui, à exposição, alguns aspectos que a mim sobressaem na composição da narrativa A Água, O Vale e a Montanha.

Para isso, inicio destacando o enlace da estrutura formal com a temática, o que a meu ver se estabelece através dos temas que surgem, ora em parágrafos extensos, ora em parágrafos concisos, ou mesmo em construções nominais, também mínimas.

Essa perspectiva ilustra bem com a construção: !!!!!!!!!!!!!!!!Chuva!!!!!!!!!!!!!!!!, que incide na narrativa com a intenção clara do autor de concretismo. Para além do segmento, o autor lança mão do uso do sinal de exclamação, com o intuito de favorecer o leitor com a intensidade pretensa para a palavra 'chuva' e o que ela representa. Nisso se incluem, seguramente, tanto o significado universal do fenômeno chuva, quanto o seu significado intimamente ligado ao texto. Nesse pormenor, menciono as estruturas superficiais e profundas de que trata Fiorin, 1990.

Ainda sobre a fusão forma-tema, destaco a fluência e o ritmo estabelecidos pelo autor na narrativa com o efeito trazido pelas frases nominais ou mesmo por parágrafos curtos. É o caso das construções: 'Gozo' e 'Arrebol' que intercalam parágrafos. Aqui, o leitor mais atento e corrente consegue verificar tanto a cadência narrativa sugerida pelo breque que representam tais construções diante de outras extensas, como a conotação gradativa que, no complexo narrativo, se estabelece apontando para um clímax no desfecho da crônica, onde encaixo também a observação feita inicialmente acerca da epígrafe, quando Túlio Monteiro, muito felizmente, evoca Moreira Campos e com ele ilustra tão bem sua visão lírica – nessa crônica que também o é – sobre a vida.
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Suely Andrade – escritora e crítica literária.

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