segunda-feira, 12 de junho de 2017

DE QUE COR É O AMOR? - Túlio Monteiro

Dois amigos - Henri Toulouse-Lautrec - 1894
De que cor é o amor? Que me responda quem nunca cometeu loucuras por aquelas curvas a mais ou a menos. Quem nunca passeou os dedos entre vinhos e meros cigarros, depois daquele amor inventado com cara de primeira vez, cama desarrumada, roupas espalhadas, esgaçadas. Um cheiro de corpos no ar, suor e risos íntimos – daqueles baixinhos – jeito de cúmplices. Como aquele sonho que parece não terminar. 

Essa vida é tão cruel, desprezível e exata que um dia simplesmente acaba, acaba. E o tempo passa transformando o que era amor em coisa que um dia termina, para ou meramente muda de cor, camaleoa minha – cama! E esse tal indelével tempo teima e trama o fim de nosso amor tão lentamente que às vezes nem nos damos conta de que estamos preferindo amar bichos que abanam os rabos: cachorros, gatos, coelhinhos de estimação.

Chegam junto com essas mazelas do tempo a hora de cada um seguir suas estrelas, esquecendo o amor d’antes, suas cores e nuances. Entretons de um amor que já foi e não mais é. E disso, meu amor, não sejamos hipócritas: todo amor acaba ou, no máximo, vira uma doce e cândida amizade. Bem aos modos de poeta largando livro de lado.

E naquele instante em que o amor é dia e se faz noite não tem mais jeito. No antes éramos canibais de nós mesmos, hoje somos chocolate amargo da manhã que sempre chega cinza para depois azular nesse inferno de terra na qual o nosso Deus escolheu para nascermos.

Reguemos as plantas a varanda e choremos sobre todo esse jardim, carmins e aquele pé de jasmim lilás que vemos ao correr da estrada – nossa rota 66 – CE 065, cabelos ao vento. Pé no fundo do acelerador sem tempo a perder e perdemos. Sempre querendo passar a todo custo da vida, só que suas curvas íngremes acabam por terminar...às vezes de maneira fugaz outras lenta e gradativamente regurgitando sobre nossos ombros os erros e acertos de vidas inteiras jogadas fora – acharque. Pântano lodoso com o que antes foram duas almas que se tocaram e se misturaram.

Por fim, vem a morte esta eterna que engana a todos e a si mesma. Fingindo-se inexistente para apenas levar o que restou de nossos corações, nossos projetos de vida.

Derretamos, pois, esses relógios, bichos que marcam horas. E eu afirmo, por fim: as horas realmente existem! O tempo passa incólume e a amargura da velhice chega trazendo junto cadeiras de balanço e o fim da chuva que despenca e insiste em cair molhando a terra que rega as flores sem dono que moram na rua.

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Túlio Monteiro escreve no Evoé! sempre às segundas-feiras. Leia também seus texto em Literatura com Túlio Monteiro.

Um comentário:

  1. O tempo... "Cavalo selvagem / Não tens arreio / Ninguém te domou..." (Matteus Viana). Incólume, vai nos vencendo, nos finalizando. A "Persistência da memória", de Dalí - expressão dos desacertos pontuais do tempo. Quanto ao amor... "Que seja eterno / Enquanto dure.".

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