Estreia neste 2017, mais um articulista do Evoé! Trata-se do poeta, contista, compositor Chico Araujo. Professor, mestre em Literatura pela UFC e especialista em Linguística pela UECE. Sua presença por aqui se inaugura com um texto metalinguístico sobre a matéria prima da literatura e convida o leitor para o propósito fundamental dela. (KB)
O objeto de trabalho do escritor é a palavra. Sua matéria-prima. Seu ponto de partida para o alcance de seu ponto de chegada em seu momento de criação textual. Subjetivamente é também seu ponto de equilíbrio, seu porto seguro no oceano social.
A palavra é também o grande dilema do escritor, porque ele, quando escreve, não o faz por qualquer motivo; mesmo sendo o motivo algo simples, jamais algo qualquer será. Porém, tratando do simples ou do complexo, qual a próxima palavra? Como efetivamente dizer aquilo que se precisa?
O dilema se insere no momento criativo do escritor exatamente no momento da escolha de sua próxima "pedra preciosa"; ela precisa ter substância precisa para gerar o efeito desejado, caso contrário, sua melhor intenção pode se perder no vazio das incompreensões, ou, pior, incendiar compreensões não pretendidas. Nesse caso... é tarde, muito tarde. O dito fica documentado e dificilmente será esquecido; em contrário, pode ser repetido à exaustão, para interesses outros serem evidenciados.
Rigorosamente, ao escritor tudo pode ser "sopro de vida" para sua escritura. A "mulher que passa", o deliciar-se com uma água de coco em uma rede, a queda de um muro, um "Sorriso de criança", o pedalar de cicilista pela cidade, a defesa de direitos sociais, o som intermitente de uma sirene de ambulância tentando abrir caminho em engarrafamento em horário de "rush", o barulho que entra da rua em sala de convivência após serem abertas janelas do espaço que fechado estava, aparelho de ar condicionado ainda em funcionamento...
Enfim, tudo é mote para o escritor. Mas precisa ser preciso, cirúrgico em tudo o que construir por meio da linguagem escrita.
Mas como registrar a palavra "perfeita"? Ela existe? Quem pode dizer que sim? Que pode declarar que não?
Será de consenso que o autor de um texto deve ser meticuloso em sua produção escrita, de forma que seu futuro legítimo leitor compreenda o posto e as intenções / pretensões autorais. Ocorre que também já se consolida em plano consensual que o leitor de um texto torna-o verdadeiramente texto a partir de sua compreensão leitora do lido, consideradas nuances subjetivas suas as quais se entrelaçam com as do autor para a validação plena do texto realizado.
Considera-se aqui, então, pelo acima exposto, que o diálogo é o trâmite natural e preciso para a adequada consolidação de um texto.
Você, leitor, gostaria de dialogar comigo?
09/05/2017.
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*Escreve aqui toda quarta-feira.
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