quarta-feira, 13 de junho de 2012

Mossa de ouroboros

Certa feita, Tom Jobim declarou que no Brasil alguém fazer sucesso até parece crime. Pelo visto, procede a reflexão desse mestre cuja inveja de muitos em nosso país não o reconhece de vez como um dos maiores músicos do mundo. Mas pior do que a inveja fruto do despeito é aquela fundamentada na falta de escrúpulos de pessoas foscas a querer roubar a luz dos bons. Lamentavelmente, a matéria do Caderno 3 do Diário do Nordeste (edição de 12/06/2012) dá vazão a esse tipo de caráter e esplende um autor oportunista, um fracasso editorial, que acusa de forma frouxa o trabalho de fôlego muito bem sucedido de Lira Neto.

A acusação apresentada é a de falta de ineditismo, quando o próprio imputado afirma que o pioneirismo de sua investigação foi ir aonde ninguém jamais fora na apuração dos fatos e comprovação das fontes. Tal critério profissional mexeu com a vaidade acadêmica de alguém que trata a pesquisa histórica como um feudo de sua posse, como registra a matéria supracitada: ... “para Machado, ‘um jornalista pode fazer ótimos trabalhos de história, desde que aceite as regras desse campo.’... e chama de ignorantes os jornalistas que resenham o livro de Lira Neto ao afirmar que o espaço dado à divulgação da biografia
“tem a ver também com a ignorância dos próprios jornalistas, que compram gato por lebre”, vocifera Machado.

Acontece que os “ignorantes” que resenharam o livro “Getúlio – a biografia” são, entre outros, Otávio Frias Filho (diretor de redação da Folha de São Paulo); Boris Fausto (professor, cientista político e considerado o maior historiador do Brasil), Marly Motta (
doutora em História e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas) e Maria Celina D’Araújo (doutora em Ciência Política). Machado, é óbvio, não encontrou eco às suas provocações em lugar nenhum.  Surpreendentemente o Diário do Nordeste dá vazão a um discurso rancoroso, invejoso e sem fundamento.

Há muitos excelentes trabalhos escritos sobre Getúlio, há até romances biográficos de qualidade questionável
e outros ficcionais muito bons como “Agosto”, de Rubem Fonseca; mas a biografia escrita por Lira Neto tem a garantia de qualidade de um jornalista criteriosíssimo na apuração dos fatos, incansável na comprovação das fontes, cuja folha de serviços é exemplar e uma referência para todos; tem também a garantia de um excelente escritor já vencedor do mais importante prêmio literário do país, o Prêmio Jabuti (pela biografia O Inimigo do Rei, sobre José de Alencar) e finalista em mais duas (Maysa - só numa multidão de amores e Castelo - a marcha para o poder).

Li e recomendo sim o primeiro volume de
“Getúlio - a biografia”. É um livro para se ler, para se ter na cabeceira e para presentear aos amigos. Uma leitura obrigatória (e prazerosa) sobre o Brasil do século passado, fundamental, portanto, para se entender o Brasil de hoje.

As agressões do jornalista Machado na verdade não fazem mossa nenhuma nem ao caráter nem à obra de Lira Neto, mas definem com clareza a natureza mesquinha e provinciana do agressor. Faz bem Lira Neto ao não conferir importância nenhuma a esse tipo de ouroboros e nem aos ecos que por ventura venha a ter.

Fonte: Diário do Nordeste

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