domingo, 1 de maio de 2016

Poema da confidência - Francisco Carvalho

Te amei com todas as estações da minha alegria

Te amei com desatino e irreverência
Te amei com raiva
Te amei com a impaciência de um menino
Te amei com solidão nos olhos
Te amei com a lua trespassada nos meus cabelos
Te amei com pressa e medo
Te amei como se o mundo fosse acabar para sempre
Te amei com sete punhais cravados no peito
Te amei com sete idolatrias no coração
Te amei como a loba ama a sua cria
Te amei com a luminosidade do remorso
Te amei no lugar da travessia
Te amei na encruzilhada da memória
Te amei no pólen da flor
Te amei na palpitação das colmeias
Te amei na chuva e no vento
Te amei no céu e no mar
Te amei na correnteza dos rios
Te amei na respiração das messes pendoadas
Te amei na paciência dos mendigos
Te amei com a voz em pânico
Te amei com as mãos em súplica
Te amei com a reminiscência dos ancestrais
Te amei com a fortaleza erguida
Te amei com a alma em chamas
Te amei escutando a música das artérias
Te amei com todos os exércitos do meu corpo
Te amei com a volúpia dos touros
Te amei com heterogeneidade dos sentidos
Te amei com o  espírito acordado
Te amei com todos os desejos em liberdade
Te amei veloz, como se tivéssemos
              Um encontro marcado com a bomba atômica

Francisco Carvalho

(em Barca dos Sentidos, Ed. UFC)

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