segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Adeus, querido Bartolomeu Campos de Queirós

Bartolomeu Campos de Queirós

Mesmo sabendo do benefício que é a passagem para o outro plano, é com pesar que registro aqui o falecimento de Bartolomeu Campos de Queirós, nesta segunda-feira, aos 66 anos, em Belo Horizonte, devido a uma insuficiência renal que lhe exigia sessões de hemodiálise. Seus mais de 40 livros para crianças e jovens o imortalizam, mas sua sábia presença nos deixa órfãos. Sua bandeira maior, a democratização da leitura e a erradicação do analfabetismo, seja fortalecida cada vez mais em sua memória e por cada um dos olhares onde suas obras semearam)semearem sonhos plenos de querer ser. Veja o documentário Por um Brasil Literário

 A bênção, Bartolomeu Campos de Queirós!

Bartolomeu Campos de Queirós recebeu inúmeros prêmios, entre eles o Jabuti, maior condecoração literária do país, e o prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil e Juvenil de 2008. Bartolomeu foi, além disso, finalista em 2010 do prestigioso prêmio internacional Hans Christian Andersen de Literatura Infantil. O prêmio Ibero-americano SM reconheceu "a transcendência de sua obra que se manifesta na profundidade dos temas abordados, o respeito pelo leitor, os desafios que teve de enfrentar, seu compromisso com a arte literária sem concessões e o caráter poético e filosófico de sua obra". Nascido no município de Papagaios (Minas Gerais), mestre e crítico de arte, trabalhou em diversos projetos de incentivo à leitura patrocinados pela Biblioteca Nacional e pelo Governo de Minas Gerais. Estreou na literatura em 1974 com "O peixe e o pássaro" e desde então escreveu mais de 40 títulos infantis, alguns dos quais foram traduzidos para o espanhol, inglês e dinamarquês. Campos de Queirós foi autor também de livros premiados como "Onde tem bruxa tem fada" (1979) e "Até passarinho passa" (2004) e diversas obras que estão na lista que o Governo brasileiro enviou às bibliotecas escolares para promover a leitura. (Uol Notícias)



Bartolomeu Campos de Queirós, caçador de sentidos

Por José Castello
Bartolomeu Campos de Queirós sempre escreveu em busca do sentido. Sabia que o mundo, com o avançar doido dos séculos, se deteriora e se fragmenta. Sabia que as palavras, a cada dia, dão menos conta do que vivemos. Insistiu em buscar sentidos onde a maior parte dos escritores nada mais vê que uma turvação. Viveu para isso. Com sua postura quase invisível de caçador.

Leia mais: Morre o escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós

Em tempos de tantos escritores céticos, ou mesmo cínicos, Bartolomeu acreditou na força — na utilidade — da literatura. Daí uma das características mais marcantes de sua escrita: a delicadeza. Sentido não é coisa que se impõe, mas algo que se colhe, como um fruto. Se você apertá-lo muito, ele pode se desfazer em suas mãos. Bartolomeu sabia disso e escrevia, antes de tudo, com prudência. E também com elegância.

Seu último romance, o esplêndido “Vermelho amargo”, é uma súmula de suas aventuras na linguagem. Sabia Bartolomeu, como está em sua ficção, que “o peso da terra é definitivo véu”. Ainda assim, humanos, temos como destino forçar essa máscara, nela fazer furos sutis de respiração. Eis a literatura, como Bartolomeu a concebia. Uma escrita discreta, feita de palavras sutis, de teimosia afetuosa e de sentimentos tímidos.

Escritores como Bartolomeu andam desarmados, com o peito exposto. Mais que o peito, o próprio coração. A escrita, em seu caso, emerge dos sentidos. Repetindo a fala de um de seus personagens, Bartolomeu “escrevia, e por isso pensava”. Ou pensava, e por isso escrevia? Seja como for, para ele a palavra jamais se separou do pensamento. O que, em nossos tempos vazios, é puro ouro.

JOSÉ CASTELLO é crítico literário (in OGLOBO)




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