sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Entrevista



Fui entrevistado por Mateus, integrante da Orquestra Nordestina do Instituto Grupo Pão de Açúcar de Desenvolvimento Humano (IGPADH) de Fortaleza. Conhecemo-nos quando eu coordenava e tutorava o programa Nossa Língua Digit@l/Comunicação, Expressão e Internet, na Casa Terra do Sol, sede dos programas do IGPADH. Era tão bom que vivíamos num clima de família, todos os cursos se integravam. O Mateus tornou-se habitué do NLD/CEI e nós não saíamos da sala da orquestra. Os ceilistas, como chamávamos os integrantes do curso que eu tutorava, faziam a cobertura "jornalística" da orquestra. Num clima de festa aprendíamos muito a colocar nosso conhecimento em favor da comunidade. Muitos participantes estão hoje em faculdades como monitores, assumindo a liderança em suas áreas, sobretudo na de comunicação. De repente, alegando ter muito gasto e pouco retorno de imagem, a cúpula do Grupo Pão de Açúcar resolveu dar fim à Casa Terra do Sol e a todas as Casas que mantinham no resto do país, deixou muitas famílias, cerca de seis mil por ano, sem o benefício social da educação comunitária. Só remanesceu dessa decisão a Orquestra Nordestina, ela dá mais visibilidade ao Grupo, os demais programas só beneficiavam a população.
Depois desse longo pretexto, eis a entrevista feita por Mateus a mim, para cumprir determinação de sua professora de literatura. Quem articulou a entrevista foi Iane Lara, que aparece na foto segurando Luísa, minha filha, depois de uma apresentação da Orquestra Nordestina no Extra-Lagoa, em Fortaleza.
Mateus: Que gênero você escreve?
Kelsen: Escrevo crônicas em blogs como o Evoé. São textos para um público bem heterogêneo. Escrevo também contos, lendas, fábulas, prosa poética e crônicas em livros para crianças.
Mateus: Como começou a escrever e por que acabou indo para esse gênero?
Kelsen: Antes de começar a escrever eu li muito, e continuo lendo bastante. Comecei escrevendo poesia. Gênero mais difícil, pois, em um poema, cada palavra deve ser uma constelação semântica. A experiência de fazer poesia, a exigência da expressão da palavra, esse trabalho na busca de harmonizar forma e conteúdo me foi importante na apuração do estilo. Acabei por preferir a poesia como um gênero só de leitura, pois sua escrita exige superconcisão. Eu gosto mesmo é de me espreguiçar na expressão ao escrever, mas não muito. Daí optar pela prosa, notadamente, a crônica e o conto. A crônica porque me obriga ao olhar cotidiano, adoro ver gente e o que a gente faz, a conformação ou a bagunça dos cenários, ver o inusitado no comum (isso é um olhar poético). O conto porque exige concisão também, não tanto quanto a poesia; trato-o, porém, como um "gênero poético" no apuro da expressão (quando consigo, faço prosa poética). Escrever prosa para criança é uma prática poética e exige mais do que a qualquer outro leitor extrema preocupação com a recepção, ou seja, o autor de textos para crianças tem de pensar nas crianças como leitoras, colocar-se no lugar delas (fazer um exercício de alteridade: colocar-se no lugar do outro). Quem escreve para outros públicos não se preocupa tanto com isso, principalmente o poeta, um egocêntrico por excelência. Então, por ser mais altruísta do que egoísta (egocêntrico), acabei optando pelo gênero que pratico.
Mateus: Há quanto tempo escreve?
Kelsen: Se for considerar desde os primeiros ensaios, escrevo há, pelo menos, uns 35 anos.
Mateus: Quantos e quais os livros que já escreveu?
Kelsen: Além de escrever livros, sou editor, e antes de ser editor fui revisor. Fiz preparação de originais e revisões de originais, de prova, heliográficas de muitos livros, mais de duas centenas. Publiquei de minha autoria muito pouco. O primeiro livro foi para crianças: Batatão – a lenda da lagoa do Tapuio. Respectivamente vieram a público: Palavras ao Vento, Ventos da esperança, Toquetelecoteco da Vovó, O Grão e a Estrela Cadente, A Família Pintassilgo e estão sendo finalizados Soldadinho-do-Araripe, Pai-Herói de Verdade, A luz do Exemplo, Guardiões da Natureza.
Mateus: Como é a vida de um escritor do seu gênero (se tem espaço, se tem prestígio...)?
Kelsen: A vida de escritor é muito interativa com seu público. Damos entrevistas, participamos de debates, de conversas com leitores. O espaço para a literatura infantil tem muito a crescer. Prestígio? "Palmas para que te quero?..." (escreveu Dina Sfatt). Bom mesmo é o carinho do público, o brilho no olhar das crianças, o sorriso franco delas. Tudo é conseqüência de muito trabalho. A pensar em prestígio prefiro focar-me no trabalho. O prestígio é filho do sucesso, que é fruto do trabalho, muito trabalho.
Mateus: O que tem a dizer sobre o interesse que as pessoas têm por leitura hoje?
Kelsen: As pessoas adoram ler. Muitas precisam apenas de um breve estímulo. Falo isso com a propriedade de quem trabalha muito pela leitura como forma de inclusão social na Casa do Conto. Nela respondo pelas capacitações de formadores e multiplicadores de contadores de histórias e da leitura, pelas Edições Casa do Conto, editora especializada em literatura para crianças, e pela Cultura Digital, todas as ações voltadas para o estímulo à leitura e produção de textos. A Casa do Conto atende por ano cerca de 50 mil pessoas, por meio de seis núcleos em Fortaleza e sete no interior.
Mateus: O que tem a dizer sobre a bienal do livro?
Kelsen: A Bienal Internacional do Livro do Ceará é um patrimônio cultural do povo cearense. Está na sua 8ª edição. Um evento que promove o livro e a leitura de forma democrática. Devemos todos prestigiá-la como uma das maiores conquistas da cidadania brasileira.

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