segunda-feira, 1 de maio de 2017

EU NÃO POSSO DEIXAR DE DIZER, MEU AMIGO! - Túlio Monteiro

Você não sente nem vê por que o que era jovem e novo hoje é antigo. Ele passou por aqui, deixou dito ao que vinha e pôs o pé na estrada. Largou o corpo que tantas vezes ocupou velhas roupas coloridas e foi... partiu, talvez, na mesma cauda de cometa que o trouxe até nós há exatos 70 anos. Como se chamava Belchior, o mesmo nome de um dos três reis magos guiados por uma estrela até encontrar o menino que anunciaria uma nova mudança, ele deve estar seguindo uma nova luz para onde anunciará a sua Alucinação aos jovens. Alegrando-os e alertando-os com seu eterno violão. Por aqui, sua ausência nos traz outra vez os recados que cantou. Menos mal, pois uma nova mudança está acontecendo nesse País e mais uma vez vamos precisar deles como nunca, nós e eles, os jovens, que não têm mais tempo nem de se apaixonar.

Cuidemos aqui de cumprir seus recados. Deixemos que se vá sozinho e assim decida a sua velha-nova vida. Quem sabe se ladeie de Poe, poeta louco que talvez o tenha vindo buscar para trocar letras e farpas com Dante sobre seus Infernos alucinantes, sob a luz de cigarro após cigarro às gargalhadas, rindo dos que por aqui ficaram e agora vão tentar decifrar o que tanto Belchior cantou.

Sou da geração que primeiro viu a que vinha o Pessoal do Ceará nos iniciados anos 1970. Cantei ao som de Fagner, Ednardo e Belchior. Talvez morresse jovem em alguma curva do caminho chamando sempre meus bem amados corações. Quem sabe algum punhal de amor traído completaria meu destino passional.

Não cabe agora falar de como vivi as coisas que aprendi nos discos nem tudo que aconteceu comigo, pois viver é sempre melhor que lembrar. Por isso é que sigo buscando novas invenções há 52 anos vividos e ainda tão vívidos. Comprovação mesmo tenho é o do que sempre vem de novo - e como vem! - e vejo como o-de-novo está vindo de maneira lancinante feito faca e a palo seco. Cenário que nos diz que apesar termos feito tudo que fizemos, vivemos como nossos pais; mas, apesar de tudo, ainda espero o novo que sempre vem, porque também pra mim alucinação é suportar a dor de todo dia. E suportar a dor de todo dia seria pior sem o amigo Belchior.

Daí eu não posso deixar de dizer a meu amigo: que teu olhar tenha sido suficientemente lacrimoso, que tenhas passado por todos bagaços de cana do engenho e não precisas ter mais medo de avião, porque na íntegra és agora eterna asa ritmada. Valeu, Belchior!

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Túlio Monteiro escreve todas as segundas-feiras aqui no Evoé!

4 comentários:

  1. Hoje, amigo, está pesado! Vanglorio seu texto d todas as mãos nesta madruga em que vem vindo no vento o nosso rapaz latino. Quem nos conscientizou poeticamente q nem sempre as alegrias furtivas da vida unem as pessoas...mas ela, sim, através dela sempre teremos a certeza d q um homem nunca estará sozinho. Comuguemo-la pr hr: DOR!
    Márcia Matos

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  2. Bela crônica. Ao autor: meus parabéns. Lá se foi Belchior com seus galos, noites e quintais.

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  3. SEU TEXTO É UM DESABAFO DE NÓS TODOS!!!
    EM ALGUMA CURVA DESSE CAMINHO OU DESSA ESTRELA PARA ONDE ELE IRÁ, UM DIA NOS ENCONTRAREMOS JUNTOS COM ELE, ENTOANDO UM HINO DE LIBERDADE NAS CORDAS DO SEU VIOLÃO!!!

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