quinta-feira, 25 de maio de 2017

A pureza das crianças - Chico Araujo

Brincadeira de criança
Portinari 1955

Ali bem perto fica a quadra esportiva e de lá, em perfeito e tranquilo desafio ao sol no corpo e à quentura fervendo do chão, pés descalços de crianças chutam uma bola de uma trave à outra – meu “gol a gol” com meu irmão na infância, as traves improvisadas nos pares de chinelas japonesas.

Vez em quando uma gargalhada forte, feliz, verdadeira, talvez por alguma barbeiragem dos dois atletas; em intervalos imprecisos, a plenos pulmões, a vibração intensa em goooooooolll. As crianças deviam, sim, ter o poder de ensinar a felicidade aos adultos.

De certo, meninos e meninas se jogam na piscina. “Thibuns” ecoam de lá e vêm me desafiar em minha casa – eu, escrevendo em meio à inquietação do forte calor. Até que um caridoso vento me apanhava pela janela aberta; mesmo assim, cessando seu sopro, ai ai ai... Imagine aí um calor calor!

Ah, as crianças... Na plenitude da inocência brincam e brincam e brincam. Daqui escuto a felicidade se alargando delas às pessoas que lhes estão próximas. Consegue ver? Concentra que consegue! Olha como estão vivas jogando água umas nas outras com suas mãos pueris... água azul sobe e desce beijando os rostos risonhos de olhares fechados – as gotas caídas nos olhos. Você vê, não vê? Um seu instante de relaxamento e quase felicidade.

Percebo os atletas da quadra quente correndo do calor para se afundarem no prazer da frieza do banho azul: “Thibuns”. Essa algazarra é uma prece e aceito que nos venha abençoar, carentes que estamos de sossego, clamando por frestas de paz.

Ahhhh, essas crianças... tão puras em seu brincar que chegam a alcançar sua essência humana, sem saber. Ahhhh, essas crianças, tão próximas delas mesmas e, graciosa e felizmente, ignorantes do centro do país. 

(18/05/2017)
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Chico Araujo - publica no Evoé toda quarta-feira. Leia também Chico Araujo em Vida, minha vida.

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