segunda-feira, 13 de março de 2017

Túlio Monteiro: INSANOS VOLTANTES

As novas eras se prometem fincar depois que ouço as vozes com amargos duplos sons. Sei que eles voltaram para resolver de vez o que a nação não fez. Culpa minha, sua e de tantas almas já idas por vinte anos de não progresso e nada de volta...pelo contrário está chegando a hora de sair de novo nadando contra a corrente e de encontro ao vento. Hora faz-se de as máscaras caírem e o gigante adormecido Brasil fechar novamente suas portas aos seres que aqui pensam.

Converso com tantos e são tantos os pensantes e passantes que vão e vêm a passos largos nessa esteira rolante de areia e asfalto onde pisoteiam o futuro da áspera luz que banha meu País já não tanto varonil. Eles virão pelas costas, como adolescentes em busca do nosso verde, amarelo e azul anil. Que me façam entender os que agora me leem sabendo do que falo. Burrificaram este cidadão de semblante baixo – olhe a geografia do formato do mapa do Brasil – Parece-me uma cabeça abaixada olhos fitos no rumo dos pés do Tio San.

Daí o resto serão os restos que sobrarem nos potes das cozinhas, nos olhos da menina de gengivas expostas ao léu, àqueles e àquelas que pagarem mais. O Rei Brasil está nu de comandos e eles – os das fardas calados em suas casernas – Será que só eu vejo e enxergo ou todos estão cegos? Cegos às avessas. As narinas de um compatriota me farejam os poros na busca do lado mais lancinante. Vejo então os dentes podres da menina, das longarinas da velha ponte onde nunca mais pisei. Um barco à deriva sou. Eletrochoques por vir. O certo incerto voltará a ser comandando pelos de maiores patentes.

E eu mais estrangeiro do que nunca nessa bolinha azul, amarela, branca e verde. E o Rei-país me pareceu mais bonito nu? Queres o que de mim, Brasil? O que faço para que todos vejam e sintam a podridão das cinzas que voltaram a ser cinzas feito rosas cremadas junto aos corpos que sumiram Araguaias afora. É o meu desmascaro, meu grito insano de silêncios sem luz e sem cantos.

Para o bicho amarelo, para o bicho índio, ao bicho homem que anda devorando o nosso verde para vende-lo aos insanos voltantes balizarem novas gruas com armas tão mais potentes; e na televisão já pálida um jornal me fala que oura criança foi brutalmente violada. Quando seremos nós a sermos invadidos e mortos. Meninos com olho diesel nos sapatos um tanto já ásperos de correr, em vão, “cheira, cachorro! ”

Não sejas mais um cego que vê o que veem minhas retinas...as retinas rotinas daquelas meninas. Flores em aberturas incandescentes para os Reis agora vestidos em formas camufladas, em artigos figurados e repletos das tais subliminares. Calemos aqui essa sentença para fechar as portas e janelas. É noite, o dia se foi e os fantasmas começam a aparecer silenciosos e gélidos.
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Túlio Monteiro - escritor, ensaísta, crítico literário e revisor.

5 comentários:

  1. Eis o retrato de nosso Brasil, onde muitos veem e poucos enxergam a realidade por motivos subjetivos, ora pela incapacidade de ler as entrelinhas da nossa história, ora pela cegueira passional para defender o seu status de classe. Contudo, o momento atual requer mais e mais gritos insanos de alerta. Parabéns.

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    1. Valeu pelas sábias palavras, meu caro. Túlio Monteiro.

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  2. O nosso país, chamado Brasil, foi e sempre será uma farsa, não tenho ilusões partidárias, nem filosóficas, a crônica diz muito para intelectuais, as criaturas barbarizadas não compreendem tais textos.

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    1. Grande Marcos Abreu, de você não poderia esperar palavras mais interessantes. Obrigado por tudo.

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  3. Texto escrito com maestria. E ainda nos amplia o vocabulário e a cultura.

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