domingo, 2 de dezembro de 2012

Outras línguas, outros eus, Fernando Leão

De 13 a 17 de novembro de 2012, ocorreram os "Encontros Lusófonos", na X Bienal Internacional do Livro do Ceará.. O programação foi organizada por Fernando Leão, coordenador de Arte e Cultura da Unilab, e proporcionou encontros entre escritores dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e do Ceará, em especial os da região do Maciço de Baturité, onde está situada a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB. Os escritores africanos participantes foram Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe; Eduardo Quive, de Moçambique; Filinto Elísio, de Cabo Verde; e Odete Semedo, de Guiné-Bissau. Os brasileiros foram Dona Zilda Eduardo, de Guaramiranga; Sebastião Chicute, de Capistrano; Alan Mendonça, de Russas; Ari Bandeira, de Barreira; e Ana Nascimento, de Aracoiaba. Pedi a Fernando Leão um registro em forma de crônica, ele me respondeu com a memória da emoção. Ficou lindo!




Outras línguas, outros eus


“Em que língua escrever
As declarações de amor?
Em que língua cantar
As histórias que ouvi contar?” (Odete Semedo)

Em que língua falar de experiências tão vívidas junto a criadores de idiomas poéticos em nossa X Bienal Internacional do Livro do Ceará? Fiando histórias como quem desenreda o mundo, fui encontrando São Lima em sua “Casa Útero”, a nos convidar às entranhas de sua Ilha; junto dela, a linda Zilda cantou Guaramiranga; o Xiguiana Quive de Maputo contou suas “Noites d’alma”; Chicute do Capistrano trouxe ecos do reisado; Alan recriou o Gil Vicente do passado; Filinto crioulizou nossa emoção; Ari trouxe seu cordel; Odete... Ah, Odete... que língua é esta em que falas que faz saltar o poema que nunca havíamos escrito? Ana mostrou as trovas como as provas de seu canto...  É verdade, são línguas em português, como falou o Saramago! Poetas de ouvir por horas e sentir um “querer bem”. Nunca sentiste esse tal? Poemas de justiça e beleza vieram do continente de Agostinho Neto e tu perdeste? 

Do Maciço, o viço das vozes se fez ouvir em Fortaleza, e onde tu estavas? Encontros de povos e línguas... sem limites, sem fronteiras e sem armas, “Mamãe Velha” cobriu a Bienal de esp’rança, fez nascer o desejo de um outro olhar para povos que falam nossa língua, a utopia. Mestres da expressão do Ceará cunharam o tom – quase profético – de um mundo sem protocolos, onde a espontaneidade cria os sons do poema. Só estou a “falar de algumas coisas que me fazem mim, me fazem nós”! Não é, São?

Ainda há espaço para quintais nesse mundo tão hi-tech - como o fez lembrar nossa Mileide (nossa Milady!) – e pensar mesmo que tudo aquilo “que se encontra em ninho de joão-ferreira: caco de vidro, grampos, retratos de formatura, servem demais para poesia”. 

A poesia dos gestos do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português, do Mindelo. Movimentos nem tão leves, nem tão lisos, nem limpos... com o tema pesado do abuso a nos querer enfrentar. Mas pra cima de nós? Por um lado, fomos educados pela pedra, resistentes. Por outro, ensinados por Cabral, o Amilcar, com seu grito que parecia trovão e fez vibrar os peitos de todos os homens e mulheres e transformou a vida! Ah, que belos momentos que transformaram nosso cotidiano tão prosaico! 

Agora... é retomar a vida sem toda essa poesia? 

O Kelsen ainda pediu esse texto – o agradeço por isso! – e posso reter um pouco mais as sensações de ter encontrado familiares de tão diferentes lugares. Quintana nos alertou pra isso: que poetas devemos gostar? Simplesmente, aqueles que nos entendem, que são de nossa família! E esses o são! Frutos dessa irmandade? 

Aguardamos novas inspirações, outras leituras, literaturas interculturais, diálogos renovados, encontros de almas... Por hora, vai um pouco do que pude dizer!

A você que lê, kanimambo!

Fernando Antônio Fontenele Leão
Coordenador de Arte e Cultura da UNILAB

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