quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cultura em debate: a questão da Secult-CE (2)


Replico aqui mais uma opinião sobre a gestão da Cultura no Ceará. Trata-se da Carta Aberta ao Secretário da Cultura do Ceará, publicada pelo escritor Ruy Câmara em seu "Câmara no Blog". No texto Câmara tatua o atual secretário com a mácula dos quem ele chama de "coveiros do mecenato", avalia a política de editais como "sub-cultura de engessamento da criação", fruto de gestores "míopes e rastaqueras", e solicita do governo do Ceará, sob a gestão de Cid Gomes, o 
"o mínimo de respeito ... para com os autores, produtores e realizadores".


Carta Aberta 
Ao Secretário de Cultura do Ceará, Francisco Pinheiro (PT): 

Tudo o que diz respeito à Cultura também me diz respeito, Sr. Pinheiro. Ao longo das suas experimentações e indecisões entre assumir-se deputado estadual de num parlamento cooptado pelo governo ou tornar-se secretário de cultura de um governo completamente descomprometido com a Cultura, mantive-me silente, em respeito ao seu direito de fazer escolhas pessoais. 

Mas as suas flutuações, idas e vindas, abandonos e posses, ultrapassaram o limite da minha tolerância, o limite do aceitável, o limite do bom senso e da razão, chegando mesmo a se configurar ridícula e prejudicial as suas indecisões e enfatuações. Por esse motivo decidi me manifestar de forma franca e direta, para dizer ao governo e à sociedade que lamento profundamente o seu retorno à pasta da Cultura. 

Mas, assim como outros coveiros do mecenato (que ajudaram na demolição do edifício que construímos outrora às duras penas) você também passará, e espero que impunemente, mas saiba que sequer será lembrado, senão e apenas pelos desatinos, pela sua falta de compromisso com a Cultura, pela embromação das ações e pelos descumprimentos sucessivos de prazos desses famigerados editais de cultura (invento dos adeptos da sub-cultura de engessamento da criação), inventos desses gestores míopes e rastaqueras que tão perversamente se empenham em inibir os criadores, produtores e realizadores independentes com o nadismo de suas ações umbilicais e politiqueiras.

Digo-lhe isso com toda serenidade e sinceridade, e sem intenção alguma de atrapalhar os seus planos pessoais, mas como homem de letras e de cultura (há 20 anos abdiquei de tudo para escrever livros e pensar pela parte que não pensa), solicito do governo do Ceará um mínimo de respeito para com a Cultura, para com os autores, produtores e realizadores, afinal, somos nós quem fomentamos Cultura e justificamos a pasta com seus orçamentos, e não o contrário, como equivocadamente presume o governo descomprometido do Sr. Cid Gomes.

Não se iluda, Sr. Francisco Pinheiro: nos desvios de trajetória daquele(a)s que ajudaram a implantar no Ceará essa sub-cultura tupiniquim e inútil, veremos quem verdadeira e legitimamente terá o prazo de validade esticado no arco do tempo. O tempo que espere, pois o tempo foi feito para esperar.

Ruy Câmara
Escritor.

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