Mais uma opinião sobre a Questão da Cultura no Ceará. Desta feita uma opinião de peso internacional. Fabiano dos Santos Piúba responde pela direção de Leitura, Escrita e Bibliotecas do Cerlalc-Unesco - Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe, com sede em Bogotá, Colômbia. Além disso, Fabiano dedicou muitos anos à gestão da Cultura na SECULT-CE, quando nos legou, entre outros brilhantes projetos, o revolucionário Programa Agentes de Leitura, tão bom que virou um projeto nacional, quando Piúba foi convidado para assumir uma cadeira no Ministério da Cultura para tanto, e o programa Agentes de Leitura já é reconhecido internacionalmente, assim como o seu autor. O texto a seguir foi publicado no Jornal OPOVO.
Fabiano dos Santos
ESPECIAL PARA O POVO
Fabiano dos Santos |
Ao contrário do que aconteceu no primeiro mandato, onde os
criadores, produtores e mediadores culturais permaneceram apáticos e sem
qualquer coragem de fazer as críticas necessárias à Secult (dentre elas o
controle descabido em torno do FEC), dessa vez se mobilizam em torno dessa
agenda tão estratégica para o desenvolvimento do estado. Pois cultura é
sinônimo de desenvolvimento sim. Cultura é capital social e uma política
construída nessa perspectiva implica em impactos diretos nos indicadores de
desenvolvimento humano e de inclusão social. Daí a importância
da
democratização do acesso aos bens e serviços culturais. Cultura é economia e um
canal para o desenvolvimento não apenas das indústrias e fazeres criativos, mas
da economia como um todo. Cultura é expressão simbólica e implica numa política
não só de reconhecimento e valorização de identidades, mas a necessidade de
programas sistemáticos para o fomento aos processos de criação, difusão e circulação
das expressões simbólicas e de como essa diversidade pode ser vetor para o
desenvolvimento sustentável. Afinal não podemos ficar mais prisioneiros de uma
visão economicista de desenvolvimento atrelado apenas ao Produto Interno Bruto.
A cultura é uma variável vital para o desenvolvimento social, econômico e
humano. E grande parte da riqueza do Ceará e dos cearenses está na sua
diversidade cultural e na potencialidade de sua economia criativa.
Nesse sentido, quero expressar minha alegria em ver (mesmo de
longe) a Praça do Ferreira tomada por artistas, produtores culturais, fazedores
e consumidores culturais estampando cartazes, lendo em voz alta e compartilhada
seus manifestos, dançando cirandas ou reunidos em grupos para reuniões em torno
do tema da cultura. E parece que ninguém está querendo derrubar secretário. O
que se apresenta é uma agenda crítica/propositiva e a necessidade de um canal
permanente de diálogo e de participação social. E para isso, não precisa
inventar a roda, basta fortalecer o Conselho Estadual de Cultura, dando-lhe
vitalidade por meio de sua instância maior e aos seus ambientes setoriais. Em
termos bem práticos, pode ser convocada uma reunião extraordinária para debater
o conteúdo da petição pública assinada por pessoas não apenas do setor, mas por
cidadãos cearenses. O fato é que vale uma leitura (também crítica ou
autocrítica) e respostas por parte do governo estadual e da sua pasta da
cultura.
Outro aspecto importante é a definição da estruturação da
equipe técnica para a Secretaria. E nesse aspecto o manifesto é claro no
componente da capacidade técnica e de gestão no quadro da Secult. Vale
salientar que não há nenhuma linha direta contra o professor Pinheiro. Por
outro lado, torna-se fundamental a definição de como ele poderá conduzir a
política cultural a partir desse momento e desse movimento. Todos nós
reconhecemos a capacidade de diálogo do professor Pinheiro e que sua formação e
atuação não estão distantes do campo cultural. Sendo assim, essa é uma decisão
que não pode ser protelada por mais nenhum dia, seja por parte do Governador,
de Pinheiro ou de seu partido, considerando o quadro político-eleitoral do
momento.
O que vale nesse momento é uma posição do Governo do Estado
sobre qual é agenda estratégica para a política cultural do Ceará. Como ela
está articulada com o Plano Nacional de Cultura e com os programas federativos
do Ministério da Cultura? E a nível local, como está integrada com a política
de desenvolvimento econômico e social do Estado? Como a cultura está inserida e
articulada com as politicas de infraestrutura, de ação social, de saúde, de
educação ou de esportes? Aliás, alguém sabe me dizer qual é o programa
estruturante de cultura para os temas da Copa do Mundo? Não vale dizer que
estão pensando apenas em um show com o Fagner (que seria ótimo) e com Aviões do
Forró. Mas antes que me respondam essa última pergunta, avisem-me primeiro
sobre os resultados do manifesto e as respostas do Governador para os três
pontos de pauta assinalados na petição pública.
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Fabiano dos Santos Piúba é poeta do grupo Os internos
do Pátio, doutor em Educação e mestre em História. Foi diretor de Livro,
Leitura e Literatura do Ministério da Cultura (MinC) entre 2008 e 2011.
Atualmente na direção de Leitura, Escrita e Bibliotecas do Cerlalc-Unesco -
Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe, com sede em
Bogotá, Colômbia.
Fonte: Jornal OPOVO
Fonte: Jornal OPOVO
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