segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cinema, Telenovela e Literatura: Lima Barreto


Cinema

Dirigido por Carlos Alberto de Souza Barros e César Mêmolo Júnior, o filme 
Osso, Amor e Papagaio (1957) é um clássico da comédia brasileira, cujo enredo trata do
s habitantes de Acanguera que têm o hábito de empinar papagaio todas as tardes. Um dia, durante uma festa em que o povoado festeja a paz política entre o prefeito e o líder da oposição, morre o coveiro. A escolha de seu sucessor faz prefeito e oposição brigarem outra vez. A partir daí, uma intrigante sucessão de óbitos acontece. Morre tanta gente que há dois a três enterrados por dia no pacato povoado. O mistério se adensa quando surge um personagem estranho, todo vestido de preto. As especulações crescem em torno do homem misterioso. Mas o segredo que aquele estranho homem carrega vai deixar a todos completamente impressionados e vai virar a vida da cidade de cabeça para baixo. O enredo é adaptado da obra Nova Califórnia, de Lima Barreto.
Ficha técnica

Título original: Osso, Amor e Papagaios. País: Brasil, 1957. Gênero: Comédia. Direção: Carlos Alberto de Souza Barros e César Mêmolo Júnior, com Jayme Costa, Ruth de Souza, Maria Dilnah, Modesto Souza, Wilson Grey, Renato Consorte, Jackson Souza, Luciano Gregory, Marina Freire, Nieta Junqueira, Jordano Martinelli, Fábio Cardoso.102 min. Livre. 

Literatura (clique para ler)

Telenovela
Trama/ Personagens: 

- O enredo de Fera ferida foi inspirado no universo ficcional de Lima Barreto, mais especificamente nos romances Clara dos AnjosRecordações do escrivão Isaías CaminhaTriste Fim de Policarpo QuaresmaVida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá e em personagens dos contos Nova Califórnia e O Homem que Sabia Javanês. A história tem início quando o antigo prefeito da fictícia Tubiacanga, Feliciano Mota da Costa (Tarcísio Meira), acredita que a cidade esconde preciosas minas de ouro. Ao seu lado estavam os companheiros Major Emiliano Bentes (Lima Duarte), Professor Praxedes (Juca de Oliveira) e Numa Pompílio de Castro (Hugo Carvana). Para provar ao povo de Tubiacanga que está certo, Feliciano mostra uma enorme e brilhante pepita de ouro em plena praça pública, causando um rebuliço entre os tubiacanguenses. Com a pedra nas mãos, o prefeito consegue convencer a todos a entregar-lhe suas economias para a construção de uma empresa de mineração na cidade. (Fonte: Rede Globo)

- O destino de Feliciano, no entanto, não seria tão promissor como parecia. A notícia de que a cidade estava cheia de ouro se espalha, e Tubiacanga é invadida por garimpeiros. Dos males esse seria o menor. Quando Feliciano volta da capital com a riqueza da cidade revertida em dólares, revela-se que a pepita que ele mostrara ao povo não era de ouro. Enfurecida, a população se volta contra ele. Para piorar sua situação, a mala com o dinheiro que trouxera da capital desaparece misteriosamente, e seus companheiros acabam ficando contra ele, acusando-o de ladrão. Feliciano, na realidade, fora enganado pelo assessor Demóstenes (José Wilker). Em meio a uma revolta popular, o prefeito se vê obrigado a fugir com a mulher e o filho de canoa. Perseguidos, ele e a mulher Laurinda (Lucinha Lins) são atingidos por um pistoleiro e morrem afogados. Feliciano Junior (Diogo Bandeira) enterra os pais e jura se vingar. Essa parte da história é mostrada no primeiro capítulo da novela e ao longo da trama, em flashback.
- Quinze anos depois da desgraça, Feliciano Júnior chega a Tubiacanga, sob a identidade de Raimundo Flamel (Edson Celulari). Alquimista, cheio de mistérios sobre seu ofício e seu passado, ele aguça a ambição e a cobiça dos moradores da cidade ao se dizer capaz de transformar ossos humanos em ouro. Decidido a vingar a morte do pai, Flamel usa diversas estratégias para acabar com os responsáveis pela tragédia de sua família. Ele não contava, entretanto, que se apaixonaria perdidamente por Linda Inês (Giulia Gam), filha do prefeito Demóstenes (José Wilker), seu principal inimigo. O segundo alvo de Flamel é o Major Bentes, um homem ambicioso e prepotente, que tivera um filho bastardo com a perigosa Salustiana Maria Tibiriçá (Joanna Fomm), Cassi Jones (Marcos Winter), e vive perturbado por esse passado. Os dois travam uma verdadeira disputa pelo poder, usando como pretexto o filho que Salustiana jura ser dele. O filho legítimo de Major Bentes, Guilherme (Rúbens Caribé), é apaixonado por Linda Inês, sua namorada, mas a moça não tem o mesmo sentimento por ele. O vereador Numa Pompílio de Castro e o Professor Praxedes de Menezes são os outros alvos da vingança de Flamel.
- Ao lado de Flamel estão Genival Gusmão (Ewerton de Castro), seu secretário e ouvinte, e Margarida Pestana (Arlete Salles), irmã de Laurinda e madrinha de Flamel, a quem ele revela seu segredo. Mãe de Isoldinha (Anna Aguiar) e Sigfrida (Débora Evelyn), Margarida trabalha como costureira. Viúva, ela é discriminada pelo povo de Tubiacanga por ser uma mulher independente e por pertencer à família dos Mota da Costa. Para se vingar dos maus-tratos das ricas mulheres da cidade, Margarida tem seus pequenos truques: volta e meia deixa uma agulha no vestido, faz a saia um tamanho menor do que o número certo da cliente e desenvolve o mesmo modelo de roupa para duas mulheres que se odeiam usarem em uma mesma festa.
 - O realismo fantástico, traço característico na obra de Aguinaldo Silva, se fez presente em alguns personagens da história. Além das mágicas de Flamel, com explosões, raios e fumaça, o coveiro Orestes Fronteira (Cláudio Marzo) fala com os mortos e guarda os segredos de todas as famílias de Tubiacanga. Orestes é um personagem fundamental na história, pois através dele, Flamel consegue se comunicar com seu pai. A personagem Camila (Claudia Ohana), sobrinha do professor Praxedes, completa a temática mística de Fera Ferida. Camila é um anjo que dorme durante três meses e, de repente, acorda levitando, depois de sentir o cheiro de sua comida favorita: estrogonofe de bacalhau.
- Flamel tenta, de todas as formas, evitar o amor que sente por Linda Inês, filha de seu maior inimigo. Linda Inês é uma jovem doce, justa e corajosa. Perdera a mãe ainda criança e fora criada pelo pai, o que, de certa forma, contribuiu para que aprendesse, desde cedo, a defender seus próprios interesses. É valente e, ao mesmo tempo, delicada. Veste-se com calças justas, botas de cano alto e chapéu sem perder a graciosidade feminina. Amante da natureza e dos animais, é herdeira de uma criação de ovelhas e quer fazer de sua tecelagem a fonte de renda de Tubiacanga. Linda Inês sente-se atraída por Flamel assim que o vê, sem saber que ele é Feliciano Júnior, seu namorado de infância. Os dois jovens vivem uma relação conflituosa, cheia de encontros e desencontros, pois apesar de amá-la, Flamel evita esse sentimento, obstinado em cumprir sua missão. Quando Linda Inês descobre a verdadeira identidade de Flamel e seu plano de vingança, fica dividida entre o amor que sente por ele e seu pai, Demóstenes, o alvo principal de Flamel.
- Flamel, por sua vez, desperta, a cada dia, a curiosidade dos poderosos de Tubiacanga. Em determinado momento da história, ele conta a Numa que é capaz de transformar ossos em ouro, atiçando a cobiça do vereador. Mesmo avisado por seu mestre, Nicolau (Ivan de Albuquerque), para não prosseguir com a experiência, Flamel não desiste. O químico chega a ter uma visão do pai, Feliciano, que pede a ele que não leve adiante a idéia da vingança, mas o moço diz que não tem como voltar atrás. Demóstenes, Major Bentes e Praxedes ficam sabendo sobre a mina de ouro de Flamel, a notícia acaba se espalhando por toda a cidade, e os moradores de Tubiacanga passam a violar as sepulturas em busca de ossos.
- Flamel volta a repetir a experiência de transformar ossos em ouro, e seu mestre, Nicolau, decide castigá-lo: tudo o que Flamel toca passa a transformar-se em ouro. Para seu desespero, ele transforma Linda Inês em uma estátua de ouro. Enquanto isso, Demóstenes incita o povo a invadir o casarão do alquimista, e, enfurecidos, os tubiacanguenses destroem não só a casa de Flamel, como a cidade, em busca de ossos. Em meio à confusão, Major Bentes aponta uma arma contra Flamel, exigindo a poderosa fórmula em troca de sua vida. Orestes chega e atira no major, que morre. Aos poucos, tudo volta à normalidade: mestre Nicolau faz os objetos transformados em ouro voltarem ao que eram antes e decide tirar os poderes de alquimista de Flamel.
- No último capítulo, Linda Inês entrega-se ao amor que sente por seu namorado de infância, e os dois se casam na igreja da cidade, tendo Ilka e Ataliba, Maria dos Remédios (Luiza Tomé) e Gusmão, Sigfrida e Áureo (Cláudio Fontana) e Margarida e Orestes como padrinhos.
Fera Ferida contou com grandes personagens e brilhantes interpretações. Entre os melhores desempenhos, sobressaiu-se o de Cássia Kiss, na pele da cômica e sensível Ilka Tibiriçá. A atriz criou trejeitos e lançou mão de um visual anos 1960 para compor sua personagem. Cheia de regras e manias e fissurada no filme O Candelabro Italiano(1932), de Delmer Daves, Ilka conhece Ataliba Timbó (Paulo Gorgulho), um ex-jogador de futebol que sofre de impotência sexual. Dona Ilka decide ajudá-lo a resolver o problema e, para isso, elabora pratos especiais, usando receitas exóticas. A relação entre os dois personagens rendeu bons momentos de humor à trama.
- Outro personagem de destaque em Fera Ferida é Rubra Rosa (Susana Vieira). Exuberante e cheia de personalidade, Rubra Rosa também fez grande sucesso com o público. Casada com o vereador Numa Pompílio de Castro, é ela quem faz os inflamados discursos de seu marido. Apesar da dedicação ao marido, é amante de Demóstenes, principal opositor político de Numa. Com a chegada da atriz Perla Menescal (Claudia Alencar), seu romance com Demóstenes fica estremecido, e ela passa a disputá-lo com Perla. Destaque para as cenas em que Rubra Rosa e Demóstenes fazem amor, quando tudo o que está ao redor dos dois amantes pega fogo. A idéia foi tirada da personagem Marcina (Sônia Braga), da novela Saramandaia (1976), de Dias Gomes, que ardia em febre quando ficava excitada.
- Além de ter se baseado no universo ficcional de Lima Barreto, Aguinaldo Silva homenageou o autor através do poeta Afonso Henrique, personagem interpretado por Otávio Augusto, cujo nome completo era Afonso Henriques de Lima Barreto. Além disso, havia uma foto de Lima Barreto com a faixa presidencial no gabinete do prefeito de Tubiacanga.

Produção:
- A abertura da novela foi desenvolvida pelo designer Hans Donner e sua equipe. Uma onça, representada por uma câmera virtual e uma sombra, percorria lugares distintos, passando por campos, grutas, cavernas e chapadas. Durante a corrida da onça, a câmera descia e subia, como se o olho do telespectador fosse o do animal. Os créditos passavam voando, como se levados pela velocidade da fera. Todos os movimentos eram sincronizados com a canção Fera Ferida, de Roberto Carlos, interpretada por Maria Bethânia. Ao final, os olhos brilhantes e os longos dentes da onça apareciam sobre o nome da novela.
- Fera Ferida teve a maior cidade cenográfica já construída pela Rede Globo até então. Com 30.000m2, foi erguida em 45 dias, em Jacarepaguá – no terreno que posteriormente abrigaria o Projac. Incluía um rio artificial sob uma ponte de ferro, ancoradouro, praças, jardins, cemitérios, uma pedreira e dez prédios em tamanho natural.
- Destaque para o casarão de Raimundo Flamel, uma construção gótica, sombria e misteriosa, com as características perfeitas para criar a atmosfera de mistério que envolvia o personagem. A fazenda de Demóstenes procurava conjugar características do inescrupuloso prefeito e de sua filha, a doce Linda Inês. A casa mistura alegria e suntuosidade. O cenógrafo Raul Travassos inspirou-se na arquitetura das fazendas inglesas, criando ambientes aconchegantes, com muita madeira e minuciosos objetos decorativos.
- As cenas de Linda Inês no curral eram gravadas em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, para onde a produção enviou cerca de 400 ovelhas.
- Para gravar a cena em que a família de Feliciano foge de Tubiacanga em uma canoa, foi necessário um árduo trabalho de produção. O local escolhido foi uma corredeira em Três Rios, Rio de Janeiro, e a gravação exigiu uma equipe de mergulhadores, ambulância com serviço médico e bombeiros de plantão. Apesar de contar com uma equipe de dublês, o diretor precisava dos próprios atores em ação, incluindo o menino Diogo Bandeira, intérprete de Flamel na infância.
- A novela também contou com cenas rodadas em Chaumont, na França, onde ficava o castelo do misterioso mestre de Raimundo Flamel. No Vale do Loire foram gravadas as cenas finais da história, em que Linda Inês e Flamel, apaixonados, terminam juntos.
- Em homenagem a Lima Barreto, os nomes das praças e ruas de Tubiacanga faziam referência aos romances e personagens criados pelo autor: praça Policarpo Quaresma, rua Gonzaga de Sá, entre outras.
- A equipe de figurinos fez um planejamento cromático para o visual de Fera Ferida, diferenciado de acordo com o núcleo familiar.
  


[Fontes: Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Aguinaldo Silva (01/08/2000), Arlete Salles (30/01/2002), Giulia Gam (22/05/2006), Hugo Carvana (11/07/2005), Joana Fomm (30/01/2002), José Wilker (30/05/2005) e Susana Vieira (30/11/2001); Boletim de programação da Rede Globo, número: 1088; ARRUDA, Lílian. “Fera Ferida acaba em paixão e ouro” In: O Globo, 19/06/1994; ARRUDA, Lílian. “Lima Barreto pelas ruas de Tubiacanga” In: O Globo, 08/11/1993;  COHEN, Sandra. “A Fera ruge na terrinha” In: O Globo, 01/05/1994; JIMENEZ, Keila. “Morte súbita” In: O Estado de São Paulo, 23/10/2005; “Marca do galã” In: Veja, 29/06/1994; MEMÓRIA GLOBO.Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003; “Pesquisadora corre atrás de ovelhas e ajuda Aguinaldo” In: O Globo, 03/10/1993; www.teledramaturgia.com, acessado em 05/2006; http://viaglobal/cedoc (intranet), acessado em 06/2006.]

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