domingo, 9 de janeiro de 2011

Alerta das abelhas - aja agora!

Das cenas de maior expressão em minha memória afetiva, uma é o espetáculo das abelhas migrantes. O meu pai na direção de uma rural azul e branca da Willys nos levava a passeio de Fortaleza a uma das praias do vasto litoral cearense, a leste ou a oeste, não importava, sempre apareciam enxames de abelhas cruzando a estrada. Sem ar-condicionado no carro, de longe ouvíamos o zumbido das abelhas e observávamos a célere nuvem negra se movendo perpendicular à via por onde seguíamos. Papai dava o comando para fecharmos as janelas e acelerava para o mais próximo possível da alada nuvem e freava o carro para que conferíssemos o espetáculo das migrantes polinizadoras de nossa vasta mata atlântica e da majestosa e misteriosa caatinga, tão ignorada até hoje.

"À frente vai uma abelha rainha, os zangões e os demais habitantes, as abelhas operárias, melíferas a seguem até onde formará uma nova colmeia. Essa nova morada das abelhas servirá de ponto de polinização de todo um vasto território." - explicava-nos o papai. Essa experiência nos levava aos livros de ciências naturais, onde conferíamos a exatidão das informações de nosso pai e pesquisávamos sobre os diversos espécimes do reino Animalia, de filo Arthopoda, da classe Insecta, inseridos na ordem Hymenoptera.

Decorar os nomes científicos era um desafio. Por exemplo Tetragonisca angustula angustula Latreille, este é o nome da espécie Jataí. Outro exemplo, a nossa amada Melipona subnitida, a pacífica Jandaíra, tão ameaçada que foi pelas predadoras de lancinantes ferrões, a Apis mellifera Lepeletier, ou mais conhecidas como abelhas africanas, que de fato deveriam ser chamadas de europeias, pois habitam também a Europa, foram trazidas por europeus e têm, aqui nos trópicos sulamericanos, um comportamento tão genocida como o da cultura colonizadora europeia.

O mel de Jandaíra é o de que mais gosto, a exemplo de meu pai. Aprendemos a identificar visualmente as diversas espécies. As indígenas, que não têm ferrão, são cientificamente identificadas como Meliponíneos e se subdividem em três tribos, Meliponini, Trigonini e Lestrimelitini. Além da Jadaíra, a Psidium catteleiam, a famosa araçá, era a mais comum de ver.

Desconfio que aqueles enxames que formavam enormes nuvens escuras eram as africanas, ou melhor, as europeias invadindo o território das nativas. Quem pode me responder?

Hoje viajo muito pelas estradas do Ceará. Em 2010, viajei muito de Barroquinha, lá no extremo norte, a Penaforte, bem no extremo sul, e de Umari, a leste, até Crateús, a oeste, e não vi um enxame sequer de abelhas.

A ausência delas ameaça a flora e, por consequência, a fauna local. Precisamos dar um basta nesse aterrador quadro natural. Portanto, entrem no movimento ALERTA DAS ABELHAS - AJA AGORA!

2 comentários:

  1. Olá amigo Kelsen,

    bela postagem,realmente as abelhas nativas,estão sendo extintas de muitas regiões do país,principalmente do nordeste,devido à presença de meleiros(pessoas que vivem de retirar mel das matas),e também a crescente destruição da caatinga...

    Abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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  2. Obrigado, Paulo Romero. Além do Alerta das Abelhas, o que podemos fazer?

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