sexta-feira, 26 de março de 2010

Entrevista a Wesley Rodrigues, de Sobral

Recebi do Wesley Rodrigues (foto), um leitor de Sobral, duas solicitações, uma refere a minha biografia, outra para responder a algumas perguntas. Ele é uma pessoa muito ligada à cultura, participa do Fala Garotada, um programa de rádio-escola promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Sobral, sob a coordenação da professora Andreia Ferreira Santos (foto), a quem admiro pela sensibilidade e dedicação, um exemplo de educadora.

Vamos à breve entrevista:
Olá, Kelsen, fale de sua biografia, onde você nasceu e morou?
 Olá, Wesley, nasci em Fortaleza, num bairro chamado Parangaba,  aos 45 minutos do dia 27 de outubro de 1961, em casa mesmo, pelas mãos de uma parteira, chamada Aracy, e do doutor Pinheiro. Ela ajudou a muitos da minha família a nascer. Minha casa ficava na avenida da Liberdade (hoje chama-se avenida Carneiro de Mendonça), bem próxima à lagoa que batiza o bairro. Morei nesta casa até os 15 anos. Fomos para o Montese e depois retornamos a Parangaba. Mas logo fiz morada longe da casa paterna no Benfica, que abriga universidades e vários equipamentos culturais, é um bairro boêmio, cultural, refiro-me a ele como o pecedobê (PCdoB), ou seja, o Polo Cultural do Benfica, onde conheci bons amigos e amigas, e namoradas, e tive uma vida bem agitada, lia muito, escrevia muito, conferia as peças, filmes e shows, cursava faculdades (Letras na UECE e Estatística na UFC) e organizava (ou desorganizava) o movimento. Profissionalmente segui o rumo das Letras. 

Qual o nome de seus pais?
Meu nome completo é Kelsen Bravos da Silva, Bravos vem da minha avó materna (Luíza), antes era Bravo; mas quando ela casou com meu avô (Laurino) colocou um S no fim e ficou Bravos. O Silva vem de meu avô paterno (Marcos) que casou com minha avó (Maria) e tiveram vários filhos, entre eles Francisco Pereira da Silva, meu pai, que aos 15 anos entrou na Marinha do Brasil para lutar na 2ª Guerra Mundial e seguiu carreira, e hoje, aos 82 anos, é um oficial superior, quando jovem se apaixonou por Lucimar Bravos da Silva, com quem casou e teve dois filhos, o segundo deles sou eu. De minha mãe trago o carinho e espírito cristão, até hoje me encanto com suas discretas orações, murmuradas ao ritmo do passar das contas de seu católico terço.
Você se casou?
Sou casado e tenho uma filha de um ano e oito meses, Luísa Moura Bravos, linda, pois graças a Deus puxou à mãe (Lidiane Moura). Moramos em Fortaleza, perto da lagoa da Parangaba?
O que incentivou você a fazer o livro Serelepe e bem-me-quer?
Desde sempre gosto de animais, cachorros são meus preferidos (criei ao todo 28 deles, até agora). Adoro passarinhos. As borboletas são das mais perfeitas criaturas de Deus, reparem só nelas, são perfeitas. O jardim sempre habitou minha imaginação, quando criança (e hoje também) passava horas e horas no meio das plantas observando desde as raízes até suas folhas e flores, as minhocas, as formigas, as aranhas, as abelhas...  Esses personagens me são pessoas muito importantes. Vivi, presenciei muitos fatos ocorridos em jardins. Tenho muitos escritos sobre eles, o Serelepe e Bem-me-quer é um deles.
Como você virou escritor?
Ser escritor é compartilhar idéias e emoções. Eu sempre li muito desde cedo. Ler para mim era (é também ainda) uma brincadeira e tanto. Através da leitura conheci e conheço muita gente e lugares distantes, gente que já nem está nesse plano, que viveu num passado longínquo. A leitura fortalece a nossa vontade de aprender. Aprender, você sabe, começa com a capacidade de se surpreender com as coisas. O mundo ter quase sete bilhões de pessoas, por exemplo, me surpreende. Queria conhecer cada uma delas. Como não posso encontrar tanta gente assim, um jeito de facilitar esse encontro foi ler muito e escrever. Em relação a ler eu já falei, quanto a escrever, está dando certo, pois por causa dos meus livros, encontrei você aqui e a gente está se conhecendo mais um pouco. Ter um livro publicado é também uma forma de ficar eterno, não é mesmo? Então eu me sinto assim mais ou menos eterno sendo escritor, virei escritor na esperança de ser eterno e para atingir esse objetivo primeiro me tornei leitor. 
Das histórias que você escreveu, gostou mais de qual? Por quê?
Eu já escrevi muitos livros; mas publiquei poucos. Além do "Serelepe", tenho publicado "Palavras ao vento", "Toctelecoteco da Vovó", "A família Pintassilgo", "Batatão, a lenda da lagoa do Tapuio", "Ventos da esperança", "Papai no trabalho",  "Papai no trânsito", "Papai na comunidade" e "O Grão e a Estrela Cadente". Com meus livros quero afirmar o amor que sinto pelas pessoas, pelas coisas e seus lugares. Amar significa não deixar morrer, então os meus livros são uma forma de eu dizer: vamos amar uns aos outros e amar nossos lugares, as coisas e todas as outras formas de vida, as plantas e os animais. Não podemos deixar morrer nossas idéias, nossas emoções, a natureza, as pessoas (ou a lembrança delas)... não podemos deixar morrer nossa cultura. Nesse sentido, creio, estar dando certo, pois recebo muitas cartas elogiando os livros. Gente dizendo que se tornou um defensor da natureza depois de ler o “Batatão”, que tomou banho de lagoa, coisa que nunca havia feito. Também sobre o “Toctelecoteco” recebo muitos comentários, muitos já me disseram que passaram a observar com mais carinho o trabalho da mulher rendeira, que redescobriram as brincadeiras de carretilha, de soltar arraia, brincar de jangadeiro, e que passaram a gostar mais ainda de baião-de-dois e de dançar baião, de ir às feiras livres, de soltar palavras ao vento (tem gente que lê ou declama poesias bem bonitas ao pôr-do-sol, para o vento levá-las e emocionar as pessoas). Leitores me disseram estar mais atentos à segurança do trabalho, à preservação da natureza, e quem leu "O Grão", além de se apaixonar, se interessou mais sobre as lendas e cenários de seu lugar. Isso é ou não uma forma de a gente amar nossa cultura e as pessoas?  E meus livros estão proporcionando isso, todos eles, toda vez que os releio descubro algo que me faz mais gostar deles. Amo todos eles, cada um do seu jeito, para mim os livros são pessoas.
  






2 comentários:

  1. Falar do Kelsen é voltar à nossa juventude. Na época em que estuvamos no Colégio Rui Barbosa, sempre foi uma pessoa querida e um amigo impar. Por diversas vezes nos reunimos na casa dele e ouviamos as histórias do seu Pereira.
    Os atletas de handebol, que jogaram e estudaram com você com certeza tem a maior satisfação de ter tido você no nosso convívio.
    Deixo aqui um forte abraço com votos de sucesso.
    Do amigo de sempre,
    Francisco Gilvan Alves Moreira
    gilvan.moreira@bol.com.br

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  2. Caro amigo Gilvan Moreira,

    Que satisfação voltar a ter contato com você, amigo. Bons tempos aqueles (não que o atual não esteja muito bom) em que solidificamos nossa amizade. Muita união e conquista comum, convivência familiar, seus pais, seu irmão e sua irmã, todos gente de uma palavra só, sem falsidade e riso franco, e muito, muito Nelson Gonçalves na vitrola, hem?

    Amizade verdadeira o tempo não a esmorece. Somos amigos, a mim muito me honra esse privilégio.


    Nosso abraço é fraterno, somos irmãos.

    Kelsen Bravos

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